O moído das eleições já começou com direito a poluição sonora e jingles dos mais diversos, alguns criativos, bem cantados, afinadinhos, engraçadinhos com repetição constante dos números do ficha limpa. Outros apenas engrossam mais ainda o caldo da cultura banal da Música Descartável Brasileira, paródias ridículas em sua maioria. Houve um tempo no Brasil em que as marchinhas, chorinhos, frevos, baiões, xotes e sambas faziam parte do repertório da maioria do povo e dos próprios candidatos. Na recente história do nosso país podemos lembrar a canção – Coração de Estudante – de Milton Nascimento, esta embalou o grito de liberdade das Diretas Já, e que a juventude estava presente degustando além do desejo de mudança, a letra, a melodia, a harmonia, a fé e os sonhos contidos. Hoje infelizmente muitos que figuram representar publicamente os nossos jovens e o povo se intitulam aviãozeiros e uma gama de parangolés sem sentido. Se existisse o partido da arte tenho certeza que seria além de filiado, militante e até mesmo um possível candidato. O discurso seria de improviso e terminado assim feito de repente. Se tudo parece uma grande brincadeira com a cara da gente, uma festinha alegre de múltiplas cores. Permita-me brincar de ser um político eloqüente culto e até bobão.
Projeto um: Acabaria com o derramamento de dinheiro em praça pública com bandas sem futuro;
Projeto três: Ensinaria as crianças desde o ensino fundamental a ler o Estatuto do Homem;
Projeto dois: Compraria instrumentos musicais para os jovens desocupados aprender a tocar Hermeto Pascoal;
Projeto quatro: Introduziria na merenda escolar balas de poesia, com rima, métrica e a oração de São Francisco;
Projeto quinto: Cumpriria apenas um mandato para não pensar jamais na sucessão;
Projeto sexto: Reescreveria a constituição em cordéis e recitarei para o público gratuitamente;
Projeto sétimo: Riscaria do mapa a fome plantando nas ruas, quintais e jardins de pedras pés de fruta pão;
Projeto oito: É povo que diz: Viva o Zé Afoito, homem que chegou de marte.
E tome acordes de viola no fim das falações e distribuição de biscoito de carnaúba preta.
Mergulhado na profundidade utópica dos ideais partidários, perco os freios da mentira, e adormeço. Num instante sou sacudido da rede por um carro de som estridente.
- Quando acordei do sonho, estava entre a rosa e os espinhos do talo atravessado na goela. Calo-me, reflito e solto um grito: O meu voto vai ser dado para o candidato que encontrei dormindo.
Zelito Coringa
domingo, 8 de agosto de 2010
O SONHO PARTIDO
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