quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

EDUCAR...


Educar nos três tempos
Arthur da Távola

Eu educo hoje,
com valores que recebi ontem,
para as pessoas que são o amanhã.
Os valores de ontem, os conheço,
os de hoje, percebo alguns.
os de amanhã, não sei.
Se uso só os de ontem, não educo: complico.
Se uso só os de hoje, não educo: condiciono.
Se uso só os de amanhã, não educo: faço experiências.
Se uso os três, sofro, mas educo.
Por isso, educar é perder sempre, sem perder-se.
Educa quem for capaz de fundir o ontem,
o hoje e o amanhã.
O amor e o livre-arbítrio sejam as bases.
Educa quem for capaz de dotar os seres dos elementos
da interpretação dos vários PRESENTES que lhes surgirão.
Repletos de PASSADOS em seus FUTUROS.


É PRECISO DISPOSIÇÃO PARA APRENDER.


Um ano inteirinho está a sua espera. Dias cheios de possibilidades virão, como folhas de um caderno em branco para você escrever sua melhor história de 2020. Antes de colocar a mão na massa é importante que você esteja minimamente convencido de que querer transformar é fundamental. Vivemos em um mundo gigante e trabalhamos em uma escola que precisa cada vez mais de nós. Cada aluno(a) com suas particularidades, histórias e vidas específicas. Pequenos grandes universos dentro de cada pessoa, com seus pontos de vista que se complementam ou se chocam. Alguns acabam perdendo sua identidade, o interesse de se preocupar com o outro, de apreciar as belezas da vida, de construir uma sociedade com dignidade para todos. E vivemos a era da modernidade líquida, empobrecida e dominada pelas tecnologias. Nossas instituições, quadros de referência, estilos de vida, crenças e convicções mudam antes que tenham tempo de se solidificar em costumes, hábitos e verdades. Mesmo assim, ainda devemos sonhar e buscar mudanças interiores, para que nossas crianças e jovens sejam diferentes e se sensibilizem para ter uma vida mais feliz, procurando no outro e nas coisas mais simples o verdadeiro significado de sua existência, percebendo que somos feitos dos outros e a história de uma pessoa se configura  como uma colcha de retalhos: ela é  formada dos acontecimentos, dos momentos de alegria e de tristeza, dos sonhos... da vida de cada um.  Entender que o homem não anda sozinho, que há caminhos que se completam. Que cada um precisa assumir o seu papel social. Fazer o que tem que ser feito sem reclamar. Entender que é dever de cada um colaborar para que tenhamos uma escola melhor. Um apoiando o outro formando a comunidade “Adalgiza”.  Cada ser é um pedacinho nesse conjunto. Importante é querer ser costurado aos outros retalhos e não ficar isolado. Todos conectados, comprometidos, na procura  da aprendizagem significativa, costurando os saberes e formando a grande colcha de retalhos.
Aí está a  riqueza da diversidade, das identidades, dos valores, do próprio currículo. Todos podem ser diferentes e construir algo com o mesmo objetivo, especialmente na escola. Desse modo, poderão se sentir parte da grande teia da vida. Nós somos aquilo que vivemos.  Somos um pouquinho da vida de nossos pais e avós, das pessoas que  estão à nossa volta. A cultura, o modo de ser das pessoas influencia o  nosso modo de ser e de ver as coisas. Assim, é chegada a hora de início de uma nova experiência. 

Bom ano letivo! 
                                                                                                                                        
  Josélia Coringa

HARMONIA DO AMBIENTE ESCOLAR


Cecília Meirelles, em sua saborosa poética, assim escreve: "Ensinar é acordar a criatura humana dessa espécie de sonambulismo em que tantos se deixam arrastar. Mostrar-lhes a vida em profundidade. Sem pretensão filosófica ou de salvação - mas por uma contemplação poética, afetuosa e participante."
Quando se lê a educação com esse olhar de Cecília, parece que o dia-a-dia na relação professor-aluno é encantado. Muitos dirão que essa elevação afetiva só funciona no plano das ideias e que na prática se assiste a um aviltante processo de destruição das relações humanas.
A violência nas escolas se materializa em agressões verbais e físicas. O professor se sente vítima de um sistema que não o valoriza, portanto não o entende bem, nem o protege. Os alunos parecem prontos para a batalha. Padecem de amor e de limites. A ausência familiar se faz sentir na postura agressiva ou apatia em sala de aula.
Além disso, e talvez por isso, tentam disputar poder com os professores que, por sua vez, se deixam levar em um debate desnecessário. Há um axioma essencial na relação entre professor e aluno: autoridade harmonizada pelo afeto. O aluno precisa de limite e precisa compreender o papel do educador. O educador não pode impor sua autoridade, mas deve conquistá-la. Sem brigas nem ameaças. Sem histeria nem parcimônia. Com o respeito de quem sabe ensinar e aprender e de quem harmoniza as relações.
Há algumas dicas para essa relação harmoniosa. Evidentemente, são a experiência e a disposição do professor que farão com que ele toque na alma do seu aluno - sem isso não há educação. Entre essas dicas, algumas proibições. A primeira delas é que professor não pode brigar com aluno, mesmo que tenha razão. Se isso acontecer, parte da sala torcerá pelo aluno e a outra pelo professor, assim, ele deixa de ser referencial. A segunda: professor não pode colocar apelido em aluno. Terceira: não deve comparar um com o outro - é preciso lembrar que não há homogeneidade no processo educativo, mas heterogeneidade. Quarta: professor não pode se mostrar arrogante nem subserviente. O meio termo é amoroso.
E aí voltamos a Cecília Meirelles. A harmonia no ambiente escolar há de ocorrer quando se consegue quebrar a carcaça que envolve alguns alunos, pela falta de algo que deveria ter vindo antes. É esse sonambulismo, essa postura incorreta frente à vida e frente a si mesmo.
Trata-se de ajudá-lo a viver essa contemplação poética, ou, em termos aristotélicos, a buscar uma aspiração para a vida. Ou ainda em Paulo Freire, ajudá-los a desenvolver autonomia para sonhar.
Aí sim, o professor mostrará autoridade. Autoridade generosa de quem confia e cobra. De quem contrata no melhor sentido da palavra. E é nesse bom caminho que entra o afeto como instrumento de poder e participação. É do olhar do mestre que saem essas virtudes. O olhar que acolhe e que constrange quando necessário. O olhar que se faz cúmplice nas boas conquistas e que lamenta docemente pelo que se perdeu. O olhar que mantém o silêncio na sala de aula, sem gritos ou lamentações, mas que é capaz de chorar pela emoção de mais um aprendiz que encontrou seu caminho.
A harmonia no ambiente escolar não é uma utopia. É talvez uma tarefa complexa que exige o que de melhor podem dar os educadores: competência, coragem e muito, muito amor!


Revista Educacional, edição de setembro de 2007