domingo, 22 de novembro de 2015

NO DIA DA MÚSICA. UM PLANO DE AULA.

Análise literária da música Construção de Chico Buarque

Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego
Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo como tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o público
Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado.

“Construção”, 1971, que, junto com “Pedro Pedreiro”, é uma das canções emblemáticas da vertente crítica, podendo-se enquadrar como um testemunho doloroso das relações aviltantes entre o capital e o trabalho.
Com efeito, “Construção” retoma o filão inaugurado precocemente por Chico Buarque: o da crítica social, tendo como personagem um elemento do proletariado – no caso, coincidentemente, um pedreiro. Pois o protagonista de “Construção”, que não é nomeado, é apenas o sujeito oculto dos verbos na terceira pessoa, parece ser o “Pedro Pedreiro” que esperava o trem nos velhos tempos – nos idos de 1965, talvez um pouco antes – e que agora cai dos “andaimes pingentes” e se despedaça.
Trata-se de um dos textos mais rigorosamente “construídos” do compositor, de estrito rigor formal e apuro técnico. Significativo, aliás, que uma de suas canções mais “engajadas” seja, ao mesmo tempo, a de mais rigoroso travejamento formal.
É interessante ressaltar que “Construção” situa-se no bojo da maré de experimentalismo formal que, vestido das roupagens de “Estruturalismo”, “Construtivismo” e outros ismos vários, predominou entre nós no início da década de 70, tanto no pensamento crítico quanto na produção literária.
Mesmo tendo sido basicamente como o autor de “Construção” que Chico se criou um lugar de cantor dos oprimidos na Música Popular Brasileira, ele recusa, terminantemente, qualquer intencionalidade social no ato de compor essa canção. Em entrevista concedida à revista Status, por exemplo, faz declarações bastante interessantes para se abrir o debate das relações entre “Lírica” e “Sociedade”. Depois de declarar que “problema pessoal não dá samba”, Chico diz que “Construção” não era, dentro dele, uma música de denúncia ou de “protesto”.
Segue um trecho da entrevista:
CHICO: Não passava de experiência formal, jogo de tijolos. Não tinha nada a ver com o problema dos operários – evidente, aliás, sempre que se abre a janela.
STATUS: Portanto, não havia nenhuma intenção na música.
CHICO: Exatamente. Na hora em que componho, não há intenção – só emoção. Em “Construção”, a emoção estava no jogo de palavras (todas proparoxítonas). Agora, se você coloca um ser humano dentro de um jogo de palavras, como se fosse…um tijolo – acaba mexendo com a emoção das pessoas.
STATUS: Então não se liga com intenção?
CHICO: Tudo é ligado. Mas há diferença entre fazer a coisa com intenção ou – no meu caso – fazer sem a preocupação do significado. Se eu vivesse numa torre de marfim, isolado, talvez saísse um jogo de palavras com algo etéreo no meio, a Patagônia, talvez, que não tem nada a ver com nada. Em resumo, eu não colocaria na letra um ser humano. Mas eu não vivo isolado. Gosto de entrar no botequim, jogar sinuca, ouvir conversa de rua, ir a futebol. Tudo entra na cabeça em tumulto e sai em silêncio. Porém resultado de uma vivência não solitária, que contrabalança o jogo mental e garante o pé no chão. A vivência dá a carga oposta à solidão e vem da solidariedade – é o conteúdo social. Mas trata-se de uma coisa intuitiva, não intencional: faz parte da minha formação que compreende – igual aos outros da mesma geração – jogar bola e brigar na rua, ler histórias em quadrinhos, colar, aos seis anos, cartazes a favor do Brigadeiro por causa dos meus pais, contrários ao Estado Novo.
Há nessa fala alguns pontos a serem ressaltados. Em primeiro lugar, há que se equacionar devidamente a afirmação segundo a qual não existe “intenção” na hora de criar. Pode não haver a intencionalidade de uma denúncia, de um recado político, mas, conforme o próprio Chico diz, há o artesanato verbal. E só com “emoção” dificilmente ele encontraria as proparoxítonas certas para ser desenho lógico, que, transfigurado pela poesia, se transformará em “desenho mágico”.
Em segundo lugar, pode-se desentranhar daí uma reflexão (com toda a descontração de quem se propunha a ser publicado por “Status”) de como se faz a ligação entre o individual e o social (em termos hegelianos, a relação dialética entre a parte e o todo, entre o pessoal e o geral): aquilo que Adorno sistematizou de uma maneira definitiva no seu “Discurso sobre Lírica y Sociedad”, e que servirá de análise desse texto. Depois de declarar que “uma corrente coletiva subterrânea funda toda a lírica individual”, diz o pensador de Frankfurt que a participação da corrente subterrânea coletiva se faz graças à experiência histórica (Chico: “Se eu vivesse numa torre de marfim, isolado, talvez saísse um jogo de palavras com algo etéreo no meio…[…] Mas eu não vivo isolado. Gosto de entrar no botequim, jogar sinuca, ouvir conversa de rua, ir a futebol…”). Não é a experiência individual que vale nem a emoção individual, continua Adorno, “mas estas não chegam a ser nunca artísticas, a menos que consigam uma participação no geral por meio, precisamente, da especificação que é o seu estético tomar forma.
Assim, a dimensão social toma existência, na poesia, através da linguagem (o que é uma retomada de uma ideia do jovem Lukács, segundo a qual o social na literatura é a própria forma). Em outras palavras, a linguagem é uma mediação entre o homem e a sociedade. E aqui se toca num ponto de vital importância. É por isso que naquilo que nas palavras de Chico “não passava de uma experiência formal, jogo de tijolos” – o social emergiu com tamanha força. No que Chico declara não passar de um exercício lúdico com a linguagem, num jogo de palavras, transmite-se um tal recado social.
Mas vamos examinar as peças desse explícito jogo de palavras que é “Construção”, onde se mostra sua poderosa força artesanal. O essencial desse jogo consiste no caráter intercambiável dos termos (e, consequentemente, do ser humano aí em questão). As palavras finais de todos os versos, todas proparoxítonas, são substituíveis. Cabe em primeiro lugar perguntar por que proparoxítonas. Há algo de estranhamento numa proparoxítona, de rareza, que Chico tão bem soube capitalizar. Há nela quase que um soluço: a voz se alça e como se suspende lá em cima, caindo em dois tempos. Aliás, instituiu-se em Chico já quase uma “tradição” no manejo com as proparoxítonas.
Esse poema de versos rigorosamente dodecassílabos obedece a um rígido esquema estrutural: um bloco de 4 estrofes de 4 versos: 1 verso isolado (verso 17); um bloco de 4 estrofes de 4 versos (que repetem os 16 versos iniciais, com exceção da última palavra de cada verso, sempre uma proparoxítona); um verso isolado (verso 34); um bloco de uma estrofe de seis versos, constituída por versos retomados do primeiro bloco (com exceção da última palavra, sempre um proparoxítona), a saber: versos 1, 2, 6, 9, 14 e 15. Essa estrofe funciona como uma espécie de condensação ou resumo da canção inteira; um verso final isolado (verso 41).
Evidencia-se uma aflitiva repetitividade que, no limite, sugere o eterno retorno dos gestos sempre retomados, a mecanização do corpo e da vida. Dentro da simetria, da mesmice da estrutura sintática, das regularidades morfológicas, métricas, rítmicas e fônicas que desenham a circularidade do todo, mudam só as últimas palavras, todas proparoxítonas.
Mas os versos isolados, que falam de morte, a saber:
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego (v. 17)
Morreu na contramão atrapalhando público (v. 34)
Morreu na contramão atrapalhando o sábado (v. 41)
Pontuam o texto, introduzindo aí um movimento alterado (e aqui se pode tatear muito bem o parentesco da ironia com a morte, ou melhor a ironia enquanto jogo com o instinto de morte). Pois a partir do verso 17, a linguagem sofre uma desarticulação – como que imitando o despedaçamento que sofre o pedreiro com a queda.
Na realidade, a morte atrapalha. Desorganiza o mundo, perturba o tráfego, o público, o sábado. É a grande dissonância que transforma duplamente: pelo trombolho físico que um cadáver representa, fazendo, por exemplo, com que o tráfego tenha que ser desviado e que os carros andem na contramão (embora o texto desloque para o corpo o fato de ter caído na contramão); e ainda por um segundo aspecto: a necessidade não apenas de sobrevivência, mas também da reprodução da mão-de-obra desqualificada, sem o que o sistema entraria em colapso. Mas se a morte atrapalha, no entanto ela é o limite para o qual tende a reificação provocada pelo trabalho alienado. De “homem” o indivíduo passa a “máquina” (mundo reificado, mas com movimento) e logo a pacote (objeto, mas desprovido de movimento). E interessa ao público antes a máquina que o pacote.
Há assim dois grandes movimentos no texto: no primeiro deles, que compreende as quatro primeiras estrofes mais o verso 17, há uma pertinência quase impecável dos adjetivos em relação a seus substantivos, das orações subordinadas (no caso, comparativas) em relação a seus referentes. Do verso 18 em diante – isto é, depois que a morte foi introduzida no texto – a pertinência se perturba, se embaralha, revelando desarticulação. Compare-se, á guisa de ilustração, os diferentes graus de pertinência, por exemplo, entre:
a) Sentou pra descansar como se fosse sábado (v. 9) e
b) Sentou pra descansar como se fosse um pássaro (v. 38); ou
a) Dançou e gargalhou como se ouvisse música (v. 12) e
b) Dançou e gargalhou como se fosse o próximo (v. 29); ou ainda
a) E flutuou no ar como se fosse um pássaro (v. 14) e
b) E flutuou no ar como se fosse sábado (v. 31).
Em todos os versos a), os adjetivos ou termos comparativos são racionais, lógicos, pertinentes; nos b) o grau de pertinência diminui, quando não desaparece totalmente; embora o rígido esquema estrutural da canção continue o mesmo, em relação ao último termo de cada verso revela-se qualquer coisa de estranho, de desfocado, de incongruente, de inquietante – no limite, de desarticulado. É como se o corpo despedaçado do pedreiro – mimese do corpo social fragmentado, disperso e mutilado – contaminasse a linguagem do poema, desarticulando-a. Deflagra-se uma crise da linguagem.
O próprio caráter de coisa eminentemente “substituível” das proparoxítonas finais, manipuladas como tijolos, revela a sua pouca personificação. A mulher do pedreiro, tanto faz que seja a “única”, ou a “última”; o filho, “único”, ou “pródigo”, do mesmo jeito que as paredes, “sólidas”, “mágicas”, “flácidas”. As palavras são tão intercambiáveis quanto o ser humano reificado. E as alterações, ao fim de cada verso, são tão aleatórias que apenas reforçam a mesmice trágica daquela vida ou daquela morte? Além disso, o torneio sintático – irônico “como se” testemunha uma realidade vivida vicariamente: as personagens agem como se realizassem tais e tais gestos, quase que numa suposição.
Desse conjunto de realidades trocáveis, realçam-se umas tantas proparoxítonas, que aparecem com maior frequência (três vezes cada): último, máquina, sábado, príncipe, bêbado. Todas, extremamente significativas. Com efeito, “último(a)” revela a dramaticidade da cena fatal: a personagem é flagrada nos seus gestos rotineiros, cotidianos, repetitivos, mas executados pela última vez, porque depois sobrevirá a morte. “Último” torna-se assim uma proparoxítona patética, à altura da tragicidade que a cena exige. Por seu lado, “máquina” traduz um dos motivos mais importantes do poema, senão o mais importante, uma vez que o homem, reduzido a um desempenho de trabalho alienado, é desumanizado tanto no trabalho como no amor:
Subiu a construção como se fosse máquina
[…]
Amou daquela vez como se fosse máquina
Aqui mais uma vez uma equivalência entre o afetivo e o social (Marcuse: “Seu desempenho erótico é posto em alinhamento com seu desempenho social”), funcionando o trabalho alienado como instrumento anti-sexual privilegiado. Efetivamente, a compulsão ao trabalho dessensibiliza, embota o indivíduo (cf. “Seus olhos embotados de cimento e lágrima”; “Seus olhos embotados de cimento e tráfego”) e, no limite, o robotiza. Como pode amar um homem “embotado”, isto é, que perdeu o fio, o gume, o corte – o poder de penetração?
Por isso é que “sábado” – símbolo do fim de semana e, portanto, do lazer, aparece também insistentemente. Pois sábado – que significaria a possibilidade da liberação do trabalho compulsivo – surge pela primeira vez no poema pertinentemente, como metáfora de descanso. Mas no caso de pedreiro, trata-se do lazer negado, roubado, que é reservado ao…príncipe. Assim “príncipe” aparece para ressaltar o seu contrário. É referência indispensável numa sociedade de classes, marcando o grotesco da comparação.
Por seu lado, “bêbado” se remete diretamente à desarticulação. Há uma ligação eventual, sugerida, entre a bebedeira e a queda (sentou-comeu-bebeu e soluçou-dançou e gargalhou-tropeçou-flutuou-se acabou), assim como há uma ligação entre a bebedeira e o poder inebriante do ritmo. Do ritmo do trabalho mecânico, repetitivo, alienado, e que é mimetizado pelo ritmo do poema na sua repetividade. A desarticulação a que me referi pode ser figurada como uma “pertinência bêbada”.
Existe nesse poema a construção de uma queda e de uma morte, e devemos estar atentos ao realismo psicológico contido nessa metáfora. A ressonância emotiva do desfecho, no leitor, é demoradamente construída: a personagem é apresentada e ganha movimento, vida e densidade ao longo das estrofes. Suas entidade afetivas são convocadas: a mulher, os filhos. Revelam-se seus hábitos, modos de vida: basicamente os gestos no trabalho (pois todos sabemos que, na classe operária, é este o principal vínculo do indivíduo com a realidade); a hora do descanso; o que come; suas características físicas: “passo tímido”, “olhos embotados de cimento e lágrimas” – a deformação corporal devida ao trabalho. “Cimento e lágrimas”: junção de dois termos tão disparatados entre si, mas que formam a argamassa duma vida de pedreiro. E a queda em si é preparada, através de uma sequência quase cinematográfica: subiu-dançou-tropeçou-flutuou-se acabou-agonizou-morreu.
O pedreiro sobre para cair: é essa a única “ascensão” que a vida lhe permite.
Em “Construção” pode-se decodificar não apenas o “problema social” do operário não-qualificado, que se expõe à morte pela precariedade das condições de segurança no trabalho, mas, alargando-se o campo, pode-se ver aí a alegoria do corpo social fragmentado, de uma sociedade desintegrada e mutiladora, que isola os indivíduos.
http://pensadoranonimo.com.br/

domingo, 13 de setembro de 2015

Não toque fogo na língua...

Menos, menos...menos

A palavra menas não existe. Menos é uma palavra uniforme e invariável, ou seja, não há flexão da mesma em gênero (masculino e feminino) e em número (singular e plural). É correto dizer: menos prepotência, menos egoísmo, menos blá, bla, blá... menos , o menos, a menos que não aprenda.


sábado, 22 de agosto de 2015

Parabéns Adalgiza



Como é gratificante olhar o passado e lembrar-me do tempo em que estudei de 5ª a 8ª série na escola Adalgiza. Década de 80,  tempo maravilhoso...
 
Saudades da época mais politizada, o encontro do movimento com o Lula lá...os fóruns e debates eram bem interessantes, o movimento estudantil ativo, mais imparcial, era o nosso canal de expressão política. Como valeu a pena! Lutamos na época pela primeira eleição direta para diretor, escola pioneira nessa conquista, graças a força do movimento, quem fez parte lembra...como foi bom!  
Esse passado nos trás de volta tanta coisa boa.  Me trás de volta os ensinamentos, os aprendizados, os sons, a esperança mais forte, os sonhos mais presentes, as imagens...as palavras, a vontade de mudar o cenário, as amizades mais verdadeiras. 

Porém não olho apenas o passado. Como é bom poder também olhar o presente e ver o quanto do Adalgiza carrego comigo. Em quantos de nós? Parte dos nossos  princípios, valores e conquistas, estão diretamente ligados a tudo que recebemos dessa Escola e de todos que faziam e fazem parte dela. Olhando o presente, vejo uma escola forte apesar dos embates ao longo do tempo.
Parabéns! Parabéns a todos que por ela passaram e a nós que  continuamos, que possamos ser destemidos, confiantes e firmes no mesmo propósito. Adalgiza sempre viva!!!

Josélia Coringa


sábado, 8 de agosto de 2015

ESCOLA ALCIDES WANDERLEY " CANTA E ENCANTA A LITERATURA DE MACHADO"



Uma viagem na literatura Brasileira foi presenciada ontem na escola Alcides Wanderley, três grandes obras de Machado de Assis, foram apresentadas de forma lúdica, sob orientação da professora Leonor Moura de língua Portuguesa, diria que, foi um projeto desafiador dentro desse contexto que estamos vivenciando na educação. Mostrou-nos que é possível realizar, é possível sonhar, é possível encarar e alcançar. Apesar de algumas situações ainda inusitadas, que merecem correções nos próximos capítulos, foi positivo, TODOS os alunos estão de parabéns. Dentro das condições limitadas de sonoridade, iluminação, cenário e figurino que dispõe nossas escolas públicas, foi um show de esforço de todos os grupos. Estavam lindos e demonstrando entusiasmo em seus papéis. Parabéns Leonor, Ana Karina, Frank e demais responsáveis.

Excelente escolha do autor Machado de Assis o criador da Academia Brasileira de Letras como bem frisou  a professora Leonor Moura na sua apresentação, foi um autor brilhante, merece ser lido com criticidade. Tivemos a oportunidade de reviver as histórias lidas. 



Dom Casmurro foi meu primeiro livro de Machado, li no ensino médio na Escola  Floriano Cavalcanti em Mirassol-Natal, posteriormente na UERN-Assu, é um livro enigmático, de leitura prazerosa, mostra-nos o amor através dos olhos de um adolescente, o jogo de interesses no cumprimento de promessas e os interesses sociais que não podiam ficar de fora. No melhor estilo machadiano ele deixa-nos tirar as próprias conclusões do seu desfecho. Não se comprova se a dissimulada Capitu traiu Bentinho. Grandes estudiosos dessa obra como Millôr Fernandes tinha uma visão diferenciada do enredo, em seus estudos aprofundados Millôr tirou Bentinho do armário. Segundo o mesmo, surpreendentemente Bentinho não tinha ciúmes de Capitu coisa alguma, e sim de Escobar...a solução desse caso finda no inconsciente imaginário de cada leitor. 

Seria interessante colocar o caso do suposto adultério da Capitolina (Giovana) em julgamento, estudar código penal, crime de adultério...Leonor, dará mais um excelente trabalho, já que os alunos conheceram a obra, com certeza terão um grande cenário e muita coisa a se discutir, escolham as testemunhas, o júri e órgãos de imprensa para realizarem a cobertura. Será show. Eu quero ver!!!



Quincas Borba com um enredo interessante, apresenta-nos a realidade de uma sociedade injusta, onde cada um quer ser melhor que o outro, bem a cara  dos dias atuais. O ter mais que o outro prevalece. O enredo mostra-nos que a vida dá voltas, em um momento podemos ter tudo em outro nada. A frase chave dita por Rubião (Marcelo) é bem pertinente  :
“Ao vencedor as batatas” . Esse romance realista também retrata as disputas entre as pessoas, a luta pelo PODER político e pela ascensão econômica, onde a vida é uma é um campo de constantes batalhas e os mais fortes sobrevivem. Os fracos e ingênuos, como Rubião, são ferozmente manipulados e aniquilados pelos ditos FORTES e mais espertos.
O livro exibi claramente que a vida é uma caixinha de surpresas e que nosso destino é pura incerteza.



"Memórias Póstumas de Brás Cubas" é um marco do Realismo brasileiro. A obra serviu para revolucionar os romances do país através da sua crítica sutil, inovadora e inteligente à burguesia do século XIX.

Logo de início o livro já surpreende: nos deparamos com um defunto autor que dedica seus escritos ao primeiro verme que roeu seu cadáver. Papel bem representado por Jackson... 

Com isso, Machado consegue ironizar as melosas e costumeiras dedicatórias presentes no movimento literário anterior: o Romantismo.


As aparências, o jogo de interesses também presentes nessa narrativa, deixa claro que a entrada na política era vista como maneira de ascensão social, não como pensamento de melhorias coletivas, a família de Cubas de pouca tradição, de maneira bem capitalista constrói “seu” império. Assim como toda sujeirada que permeia a sociedade Brasileira nos dias atuais.




Ainda é possível reinventar a educação.

Parabéns para todos. 

Josélia Coringa

domingo, 21 de junho de 2015

O MITO DO “BOM ALUNO” e DO MAU ALUNO


O MITO DO “BOM ALUNO”

A legislação brasileira estabelece que a educação é dever do Estado e da família e visa à formação do indivíduo, à preparação para o exercício da cidadania e à qualificação para o trabalho. Quer dizer, escola e família são igualmente responsáveis tanto pela construção do conhecimento, quanto pelo compartilhamento dos valores e princípios normativos das relações sociais estabelecidas entre os indivíduos e a coletividade, ou seja: ética, cidadania, alteridade, solidariedade, cooperação, tolerância, respeito às diferenças…
Os alunos disciplinados, sociáveis e os que conquistam boas notas (porque são estudiosos, atenciosos, participativos) são considerados bons alunos e, por isso, não causam preocupação aos pais e professores, sobretudo porque emitem exatamente o comportamento que deles se espera. São crianças que não dão trabalho.
Algumas vezes, “bons alunos”, quietinhos, que não perturbam a aula e são obedientes, que tiram boas notas e são “exemplares”, na verdade são tímidos, ansiosos, têm baixa autoestima e são assustados diante de tudo o que possa representar autoridade e dever. Muitos têm saúde frágil, apresentam problemas respiratórios ou digestivos, são alérgicos, sofrem de dores de cabeça ou distúrbios de sono, roem unhas, têm algum tipo de comportamento que revela o quanto se sentem reprimidos (ou oprimidos pelo medo) para expressar seu ser essencial. Enfim, têm a agressividade represada, acumulada, velada. Em suma, são como um vulcão prestes a entrar em erupção, esparramando lava por todo lado, a qualquer momento. Evidentemente, nem todo “bom aluno” é assim, mas os que são, emitem, sim, sinais de que alguma coisa não está bem, não está em harmonia.
Na outra ponta do espectro comportamental, há o aluno problemático, indisciplinado, que não para quieto, atrapalhado, que perturba a aula, não respeita as regras, que expressa sua agressividade e sua frustração, enfim, que dá um trabalhão danado e, por isso mesmo, chama a atenção dos educadores e da família e, dependendo do comprometimento da escola e da família, recebe os cuidados necessários para aprender a ser quem é e a lidar consigo e com os outros de um modo mais inteiro.
Então, o que nós, educadores e familiares (ou amigos) de crianças em geral devemos ter em mente – e a escola, principalmente, por força da formação profissional de seus quadros – é o que o mito do “bom aluno” precisa ser desconstruído, em favor da compreensão de que o desejo de aceitação, a insegurança, a frustração, o medo, a ansiedade podem, sim, estar velados sob um comportamento aceitável, dócil, amável.
Nem sempre o silêncio e a introspecção significam quietude e harmonia interior. Muitas vezes, ao contrário, o silêncio e a introspecção significam a inquietude que fervilha internamente e que se fortalece calada na solidão da criança que não se manifesta, que não compartilha, que não expressa sua dor nem seu sofrimento e que, de repente (aos olhos do observador), corrosivamente enfraquecida pela falta de poder para mudar o que a oprime...

O MITO DO MAU ALUNO

Quando se fala de pessoas, as generalizações podem levar a preconceitos, mitos e crenças que nem sempre se verificam na realidade e isto é exatamente o que acontece quando o assunto é o “mau aluno”, sobretudo porque o conjunto de características que definem o “mau aluno” é muito amplo.
Antes de começar, uma consideração: alunos são pessoas e, então, tomar alguém por um “mau aluno” significa tomá-lo por uma pessoa que não é boa. É preciso, então, que se tenha muito cuidado ao se definir alguém como um aluno “bom” ou “mau”, sobretudo porque, em quaisquer dos dois casos, fazê-lo significa julgar o outro, sentenciá-lo a uma vida de êxitos ou de fracassos que, muitas vezes, estão, sim, ligados a esses julgamentos.
De modo geral, espera-se os “bons alunos” sejam pessoas bem sucedidas, competentes em suas profissões, que alcancem altos postos em suas carreiras, que sua inteligência abra-lhe as portas e que sua estrada seja mais tranquila. Ao mesmo tempo, geralmente se projeta que o “mau aluno” seja um perdedor, que tenha empregos “menores”, baixos salários, carreiras de poucas oportunidades de crescimento, muitas dificuldades para percorrer seus caminhos. Mas isso nem sempre é assim (de novo, vale lembrar que as generalizações são perigosas) e uma prova disto é que há “bons alunos” de inteligência apenas mediana, assim como há “maus alunos” intelectualmente brilhantes.
Os considerados “maus alunos”, geralmente são pessoas que não gostam de estudar, não fazem as tarefas, não participam das aulas, não demonstram entusiasmo pelas atividades escolares e, por isso, tendem a tirar notas ruins. Acontece que, na maioria das vezes, esses alunos não gostam da escola, acham a aula desinteressante, não se sentem motivados a aprender, porque não foram conquistados, não foram seduzidos, para a grande aventura do conhecimento. Muitos vão à escola porque são obrigados a ir, o que é enfadonho.
Na maioria das vezes, esses alunos são rejeitados, porque representam o diferente que incomoda os iguais, quer dizer, seu comportamento desajustado, além de revelar seu descontentamento e sua frustração, perturba e desorganiza a ordem. Então, os “maus alunos” (em conflito com as regras), apartam-se “bons”, unem-se e formam uma força de ataque e resistência ao sistema.
Mas, a bagunça, a indisciplina, as atitudes rebeldes de confronto (que podem ser bem agressivas) podem ser apenas uma forma de chamar a atenção dos professores (e de seus pais, também), porque esses “maus alunos” querem apenas existir, querem apenas ser e, no fundo, desejam que a escola seja mais interessante e que os acolha com são.
Como se sabe, as pessoas não são iguais e parece irônico que a mesma escola que ensina o respeito mútuo e a tolerância às diferenças não consiga lidar com aqueles que não se adaptam ao sistema, que se insurgem contra ele, que o questionam. Em vez de procurar compreendê-los e cativá-los para buscar formas de integrá-los, muitas escolas, em suas medidas disciplinadoras, alimentam e fortalecem essa resistência.
Desse modo, os “maus alunos” não demoram a entrar em contato com a frustração, aprendem que não pertencem. Embora seja função da escola formar a pessoa, prepará-la para o exercício da cidadania e qualificá-la para o trabalho, logo cedo esses alunos descobrem que a escola tende muito mais a formatar do que a formar a pessoa. Acredite quem quiser, há pais e educadores que defendem que é exatamente assim que deve ser.
Alunos são pessoas que têm família e a família compartilha valores, princípios, crenças, atitudes, estabelecem relações que chegam à escola pelo comportamento das pessoas que participam da comunidade escolar. Acontece que há alunos que, em casa, não aprendem coisas simples como cortesia, solidariedade, respeito, tolerância, o que, por sua vez, é expresso no espaço escolar de forma muito clara e, às vezes, violenta. Há alunos cujos pais incentivam o desrespeito às regras, outros parecem ignorar que, no fundo, seus filhos estão pedindo ajuda e, também, há aqueles que fazem questão de compartilhar seus preconceitos e sua intolerância com seus filhos que, por sua vez, agem de forma preconceituosa e intolerante na escola, praticando o tão comentado “bullying”.
Os “maus alunos” são custosos, difíceis, dão um trabalhão danado, representando um grande desafio para o professor, sobretudo para os que preferem agir apenas dentro de sua zona de conforto, o que, em educação, pode ser um desastre.
Dentro da zona de conforto podemos exercer algum controle sobre o que nos acontece e, claro, agir até onde o braço alcança é mais fácil do que ter que se levantar e ir buscar o que está distante. Por isso, em vez de assumir o próprio comodismo, alguns professores transferem para o outro as causas do seu fracasso como educador. Parece que alguns esquecem que uma das funções do educador é formar pessoas e, nesse particular, isso só é possível quando se compreende que educar é um ato de amor e exige generosidade, afeto, partilha, tolerância, bem-querer, compreensão, acolhimento, envolvimento, compromisso…
Não se deve esquecer que professores são pessoas como as outras: imperfeitas e falíveis. Muitos professores não estão preparados para lidar com o comportamento transgressor, nem são internamente estruturados para isso e, ainda, há aqueles que acreditam e defendem que não têm obrigação nenhuma de ensinar coisas básicas a pessoas que não recebem educação em casa. Na verdade, em co-responsabilidade com a família, cabe à escola preparar a pessoa para o exercício da cidadania, o que supõe aprender a relacionar-se com o outro e com as normas que regem as relações entre as pessoas, ou seja, entre o indivíduo e a sociedade, o que inclui coisas como disciplina, comprometimento, respeito (aos outros e às regras estabelecidas pela coletividade), que, por sua vez, são alguns dos alicerces da democracia que nos garante muitos direito, mas não coloca, também, vários deveres. O problema é que “disciplina”, “comprometimento” e “respeito” estão equivocadamente associados à repressão da liberdade e, nos dias atuais, é impressionante a quantidade de pessoas que simplesmente ignora o outro, agindo como se o mundo tivesse sido feito unicamente para sua conveniência.
Mas, o “mau aluno” também pode ter algumas características muito interessantes: coragem bastante para deixar bem claro o que pensa e como se sente, criatividade suficiente para demonstrar isso das formas as mais variadas, liderança necessária para ser seguido por outros alunos, entre outros talentos que ficam ofuscados pelo comportamento que não ajusta aos padrões de “normalidade”. Então, essas características não são notadas e, por isso, não são exploradas de modo construtivo, embora ampliar esses potenciais seja, sim, função da escola.
Na verdade, como qualquer pessoa, o “mau aluno” quer pertencer, mas nem sempre sabe exatamente como fazê-lo, já que é diferente do que se considera “bom aluno”. Acontece que nós temos a tendência de tornar verdade o que dizem de nós, porque o que ouvimos sobre nós vai entrando em nossa mente, cria raízes, galhos, até que frutifica, ou seja, manifesta-se como verdade… Então, com sua autoestima bombardeada de críticas, o aluno que não se enquadra no padrão do “bom aluno” torna-se “mau aluno”, agindo de acordo com a sentença recebida, por não ser como os outros determinaram que fosse…
Por isso, antes de determinar que alguém é “mau aluno”, é importante que tenhamos em mente algo muito simples: a pessoa que é respeitada como um ser único, que é reconhecida e valorizada, que se sente acolhida e integrada, é, sim, capaz de ir além de seus limites e pode surpreender, em seu êxito, muitos que a consideravam fadada ao fracasso.

Este artigo foi escrito por Marcia Godoy dos Santos Psicopedagoga e Professora de ensino superior.