terça-feira, 14 de setembro de 2010

O POÇO DA LAVAGEM NA LAVAGEM DO POÇO - Pequeno Trecho

Foi-se o tempo da erudição vadia. Cultura popular é a face lambida do povo no meio da rua.  Não temo dizer que a simplicidade verdadeira da origem tribal já se perdeu nestas paragens. A coletividade virou modernage individualista, do sortimento da fruticultura à breve monocultura do caldo da cana. O falo da hipocrisia acende o fogo da camarinha, ranço de palavras miudinhas no pé do ouvido do povo: A demagogia girante dos mandantes modernos.
E tome promessas, piadinhas afiadas de vitória no juízo do pobre sonhador.
Pernoito junto aos meus companheiros de arte e na beira do poço me farto de alegria.
Continuo a viajem na busca do mantimento, pela estrada da várzea tranquilamente sigo.
A carga do meu comboio é pura repartição de peixes, de frutos e pães da literatura.
Escuto dolente a roda cantante do carro de boi distante demais do raiar do dia.
Pai Poiô já me dizia: Poço verde é de nossa Santa Luzia desde o tempo de Camões,
e antes da lua namorar o sol de marte o marco já estava fincado no portal da crôa.
Se era profecia ou conto das nebulosas do seu juízo fraco, franco e adivinho,
lembro-me que sempre sempre repetia o mesmo bordão em desalinho:
Vila Nova e Mutambinha pertencem a nossa senhora que alumia.
Caducando mansamente em sua sabedoria vestido em terno azul marinho:
Porém, quando repetia que Santa Luzia com seus olhos
juntaria num piscar da vista o que restou do poço numa lagoa de pranto.
Pensava que era heresia o seu bendito apocalíptico:
- O sobrado do barrão será demolido pela ignorância do tempo e
não haverá homem de poder para impedir tamanho tombamento.
Quem acolhe o cordeiro manso em sua humilde tapera,
alimentará a doidice do bicho solto no quintal faminto de votos.
As falações presente nas bancas de feira e na utopia dos filósofos de cadeira
que pairam nas esquinas em buscando do enredo de novidades fresquinhas.
Seguem o dia inteiro de um canto para o outro procurando algum pau sombroso.
Falam de um tal bode branco pai de chiqueiro de puro sangue ladino,
reprodutor de primeira linhagem ribeirinha.
Do centro da fofocagem escuto um berro estridente:
O petróleo é nosso!- O protesto se encaminha para os recantos da cidade!
Com a viola afiada na lâmina do improviso, gilete em cada ponta de verbo,
cabo de palavra firme, recito num galope à beira mar quebrando o miolo da rima:
O Poço da Lavagem na lavagem do poço é tudo que me resta de encanto:
Poço negro que jorra das profundezas abissais da rocha e tanto, quanto e quando?
Poço de abundantes milhões e pirilampos acessos na escuridão do mato.
Poço de quase sangue que jorra na calçada da matriz do velho moco devoto.
Poço que reluz os olhos santos na tocha de fogo de um farol cheio de gás.
Poço da lavagem do fosso no dorso dos trôpegos animais!
Lugarejo dos festejos enluarados de alfenins, maçãs do amor e outros moleques!
Tabuleiro moço de seres renitentes, fecundos, pedantes, atrevidos,
irreais, visionários, cavaleiros cantantes e resistentes demais.
Carnaubais terra das enchentes constantes.
Carnaubais do rosário forte, das oficinas de charque e tropeiros viajantes.
Carnaubais que já deu vilas rurais e manguezais literalmente.
Carnaubais que já não pode ceder um palmo do seu mourão limítrofe.
Há quem diga o contrário do que disse antes, isso é tolice, briga de moinho gigante.
Dizei Ó virgem santa quem pariu tais idéias, qual Quixote de Cervantes?

* Zelito Coringa



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