Exprimia-se entre espaços apertados. Era comum vê-lo enfiar as mãos em brechas de paredes. Abria a geladeira e cheirava com impaciência todos os alimentos. Ficava roendo páginas de livros. Estava sempre à espreita, desconfiado.
Familiares e amigos, assustados com seu comportamento, resolveram levá-lo a uma clínica psiquiátrica, onde os médicos, durante meses a fio, se empenharam em fazer o professor tomar consciência de que era um professor, e não um rato. Lutaram para que se lembrasse de seu conhecimento, dos milhares de alunos que ajudou a formar, das centenas de milhares de provas e trabalhos que corrigiu.
Não era fácil. O professor queria fugir. Olhava para os médicos como uma cobaia presa no laboratório. Andava de um lado para o outro como se estivesse dentro de um labirinto. Às vezes, encurralado no canto de uma sala, tremia e guinchava.
Graças à persistência dos médicos, o professor foi aos poucos recuperando a sua personalidade. Perguntavam-lhe todos os dias: "O senhor é um professor ou um rato?" E lhe davam mil e um argumentos para se convencer de que era, de fato, não um rato. De que era um professor, um mestre, um educador!
Depois de um ano letivo inteiro, o professor deu sinais de que estava curado. As avaliações inter e multidisciplinares, os testes constantes, as provas, os exames indicavam que o professor voltara a ser professor. Nada de aprovação automática. Sua recuperação foi supervisionada passo a passo.
Num belo dia, os médicos deram-lhe alta com notas altas! E lhe disseram que podia voltar a lecionar.
O professor se despediu, caminhou pelo longo corredor, até sumir das vistas dos médicos e enfermeiros.
Dois minutos depois, o professor entrou espavorido, suando frio, olhos arregalados, na sala de um dos médicos. Gritava:
— Doutor! Pelo amor de Deus! Me ajude! Tem um gato na saída da clínica!
— Mas, professor, o senhor não precisa ter medo. O senhor é um professor, lembra-se? É um professor e não um rato.
— Certo, doutor. Isso eu já sei. Mas será que o gato também sabe?
Gabriel Perissé
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