quarta-feira, 17 de setembro de 2014

A cola das ideias

Coesão e coerência são fundamentais para criar o encadeamento adequado a um texto claro e convincente

Em simplificadora receita, o Rei do País das Maravilhas mostrou como escrever uma história - um texto ou uma boa exposição oral - ao responder ao Coelho Branco:

"Comece pelo começo e vá até o fim. Então, pare."

Verdade que a receita de Lewis Carroll (1832-1898), em As Aventuras de Alice no País das Maravilhas , é redutora, mas no fundo criar um bom texto se limita a começar, desenvolver e terminar. Está implícito na receita o fato de que o escriba seja ávido leitor, domine a estrutura da frase e as formas de expressão, goste de escrever e não raro sofra procurando as melhores palavras na ordem certa para transmitir o que quer. Tudo em busca da clareza que pressupõe duas qualidades: a coesão e a coerência.

Coesão é a conexão, a interligação, a concatenação entre as partes de um texto. Texto coeso é aquele em que os segmentos estão articulados uns com os outros. Num parágrafo marcado pela coesão, as frases se interligam em progressão harmoniosa, de forma que a primeira se encadeia com a segunda e assim por diante, como que anunciando a ideia seguinte. É a coesão de parágrafos integrados por períodos compostos ou não.

Compreensão
O fundamental é que o resultado seja um texto compreensível e sem vácuos, que fazem o leitor se sentir desamparado, como se deslizasse numa montanha-russa. É preciso que o texto flua tanto possível em harmonia para que o leitor (ou ouvinte) não precise se esforçar para imaginar o que o autor gostaria de ter dito. O texto obscuro, por falta de coesão e unidade, não parecerá inteligente por ser difícil, mas por indicar deficiência de raciocínio do autor.

Para facilitar a coesão, podem-se usar elementos de transição entre os segmentos do texto: advérbios, conjunções, locuções adverbiais, palavras denotativas e pronomes [quadro "Os conectivos"], embora o ideal seja o encadeamento ideológico, a coesão obtida pela sucessão natural das ideias e não por conectivos, que às vezes produzem concatenação forçada.

Unidade
Quanto à coerência, é a unidade do texto. Tem relação com causa e efeito, com consequência. A conclusão deve partir de premissas bem definidas, pois não se pode obter algum efeito sem que as causas sejam estabelecidas com clareza. Da mesma forma, certas causas devem produzir determinados efeitos.

Numa história, se uma personagem aparece, deve ter sido apresentada antes; se morre uma criatura, ela não pode aparecer depois sem explicação, a menos que seu ressurgimento seja atribuído a causas sobrenaturais. Da mesma forma, não fica bem para a coerência de um representante da classe jurídica ter feito um interrogatório como o seguinte, narrado no livro Desordem no Tribunal , sobre cuja existência há dúvidas porque não há citação da editora. Uma ou duas delas, como as seguintes, podem ser classificadas como exemplos de incoerência argumentativa.


Josué Machado

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