terça-feira, 3 de novembro de 2009

SAUDADES DE MARIA...MARIAZINHA

UMA MARIA QUE RIA

Quem dava conta da graça? Era Mariazinha, com asinha no nome, voava e deixava alegria por onde passava. Agora sem a maresia e o doce banho de rio, o Mário sem a Maria se segura na correnteza irremediável da tristeza. Quem saberá dizer o valor do que se perde para a eternidade, quando a vida é subtraída subitamente? Resta o vazio numa questão sem resposta.

Lembro-me menino sentado no batente, olhando passar com mais de cem na estrada de terra os automóveis da época, na velocidade certa e na hora exata, a poeira subia, e de olhos arregalados via à famosa lambreta azul, invadir as minhas tardes de domingo, o nome eu já sabia, era mamãe quem me dizia. Lá se vinha Francimário ao encontro de Mariazinha. Eram namorados de verdade, nesse tempo eu nem pensava nessas coisas de gente grande. Somente interrogava, quando passava e voltava o ronco da motocicleta. Aprendi anos seguintes dois exemplos indivisíveis circulando pelos corredores da Escola Adalgiza Emidia da Costa: a união dos professores apaixonados, somados ao valor do amor fraterno, do companheirismo, visíveis no somatório depois da prova dos noves, até o último numeral escrito com a brancura do giz e a negritude do quadro negro, pra não dizer ofício dos mestres educadores. Escrito neste caderno de lembranças, as cotas de recordações, e de agradecimentos desta que foi o exemplo de ensinamento e estimulo afetivo aos seus alunos. Também fui um deles, paginando a tabuada quieto num canto da sala. Com respeito a sua presença, guardei as primeiras lições. Se o tempo não fosse metafísico demais, e tivesse o poder de parar por um segundo o relógio inquieto da existência, faria até as quatro operações para que os ponteiros voltassem a dar nova partida, e ainda mais sorridente, Mariazinha, nas asinhas do seu nome, retornasse as suas funções, que as frações resolvidas em plena sala pudessem fazer o seu coração alegremente bater. Sabemos que foi de pirraça que a professora usou todas as medidas da sua matemática para elevar aos céus o seu largo sorriso, enquadrando no quadro divino os quadrantes do seu olhar de afeto, nos logaritmos da memória guardaremos o seu bom humor, no livro dos dias que também nos restam. As equações, as hipotenusas, as noções básicas, os numerais, as raízes, as matrizes na infinitude das linhas geométricas, sejam todas resolvidas por nós que aqui ficamos cheios de dúvidas e interrogações. Pra onde foi a Maria que ria? Que somava e multiplicava junto ao seu máximo denominador comum. Seu Mário, Francimário, metade, carne e unha, retrato matrimonial perfeito. Ficamos aqui sem entender e resolver em nossos cadernos esta prova de tamanha saudade. Subtraídos da sua presença, guardaremos apesar da dor as suas lições amorosas.

Zelito Coringa – Poeta e Compositor, ex-aluno - Carnaubais, 06 de Novembro de 2007 – às 23h23min

Nenhum comentário: