terça-feira, 30 de março de 2010
Se enxergassemos além do que nossos olhos conseguem ver...quem sabe assim conseguiriamos alçar voos intensos
O homem da cartola
Sentado em uma praça da cidade, o homem da cartola, olhava para dentro de si. Via o tudo e nada ao mesmo tempo. Enxergava sempre a mesma visão, sempre o mesmo ângulo. nunca mudava sua direção. O olhar que lhe restou era o mesmo questionador e profundo, o mesmo que usara no auge da vida, o mesmo, mas diferente do olhar vivo que olhara o mundo por trás do par de óculos meio retorcidos. Seus óculos eram vazados, assim como o seu interior, suas vestes estavam comidas pelo tempo e usava uma gravata que mais parecia um nó de forca.
Trazia consigo, um cavanhaque bem cortado e um bigode espesso, nem um pelo estava fora do contexto, tirando os fios de costura dourados que escapavam de sua cartola, iluminados por uma consciência que um dia existiu e já foi uma verdade.
O elmo que usava, a cartola, deixava à mostra as marcas de uma vida invivida, rugas que insistiam a aumentar nos traços de sua expressão estática.
Estampando na face a incógnita que padeceu de solução: O que é mesmo que se deu?.
Perguntando-se, quando perdera a sua efémera realidade, não se lembrava se havia sido entre o caminho de sua casa até a praça ou se dentro da sua cartola.
Por ele , passavam pedestres que nem o notavam ou o já estavam cansados de vê-lo sempre ali cogitando a sua realidade.
Um pombo pousava sobre a sua cartola, arrulhando, limpava suas asas e retirava alguns piolhos que incomodavam. Enquanto isso, o homem continuava parado na posição de sempre, não mexia nem um músculo, apenas seguia o seu papel de representação, de vida que um dia existiu, continuando a ser uma estátua em uma praça da cidade.
Guilherme Diogo Rodrigues.
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