segunda-feira, 28 de outubro de 2019

UMA ATITUDE, UM TOQUE, UMA PREVENÇÃO, UMA NOVA VIDA!


Não é uma santa, contudo é exemplo de fé.



Sábado, 21 de setembro de 2019, tarde silenciosa, abro o meu baú de lembranças e encontro nas minhas reminiscências uma biografia que apresento por conhecer de perto. Saboreamos o bom, o alegre, mas aqui e ali nos deparamos com muitos cacos ruins, e desafiadores. Mas quem não os vive? Acertado, é quando saímos amadurecidas das experiências. E ela saiu, os pedaços mais doloridos foram seus, ela sentiu na pele, no osso, na carne, no seio. Por isso tornou-se um ser mais que especial e vou tentando encontrar as palavras sensatas para defini-la. ANA, que quer dizer "graciosa, cheia de graça". Além dessa definição do seu nome ela carrega uma lista ilimitada de conceitos. Ela é uma mistura de tudo que é inquietude e ousadia. A conheci em 1996, primeiro dia de faculdade que não recordo com precisão à data. Sei que nos conhecemos ali, na UERN/Assú-RN, naquela noite agitada, cheia de curiosidades e algumas descobertas. Aprovadas no curso de letras, um pequeno sonho iniciando-se. Turma boa de ousados e idealistas, e ela chamava atenção pelo jeito destemido de ser, riso frouxo, olhar atrevido, hum... Ela sempre foi assim, espontânea e forte, não tinha tiques de vaidade, nem estilo próprio definido. Com o tempo foi apreciando as novidades da moda. Decerto, pela correria que enfrentava e o desejo de vencer na vida, esses individualizes se faziam pequenos, era, portanto, comum o descuido com algumas combinações. Tudo pequeno diante da grandeza de um ser. O valioso disso é que a nega não deixava de ser sedutora e sensual. Quando ela chegava à sala se sacudia. Chegava meio descabelada, cheia de poeira das estradas que enfrentava de moto, o capacete na mão, naquela época, já namorava o Luiz Neto, seu contínuo protetor, saiam de Pendências para Porto do Mangue onde dava aulas e de Porto para Assú, sempre determinada e aventureira, muito aventureira. Era uma Gabriela de cravo e canela. Quantas aventuras foram confidenciadas anos depois. Por quanto tempo emprestei meus ouvidos para suas histórias afoitas. Que histórias! Ficaram na poeira do transporto. Sua adolescência foi vivida intensamente. Na época da faculdade, não compactuamos amizade, nossos gostos eram bem diferentes, eu sempre pacata, o grupo era mais seleto pelas características comuns, formamos um trio denominado: Amorzinho, Perpétua e Cinira personagens da novela Tieta. Ana era parte de outro trio de mademoiselles, no finalzinho é que nos aproximamos e começamos uma amizade bacana, é certo que houve desencontros de ideias, mais acrescentamos afeto, união, carinho e respeito. Lembro com saudades do dia 17 de dezembro de 2000, data do meu aniversário, noite de festa, de comemorações, de expectativas, festa de Beto Barbosa em Pendências, no parque de vaquejadas, onde combinamos comemorar o final do curso de letras, junto com outras amigas da turma, ela namorando Luíz e eu sozinha, um coração solitário e porque não dizer afável. Ahhh! Tive a feliz sorte de encontrar meu amor... Casamos no ano seguinte, engravidamos e tivemos filhos com diferença de um mês. Ela uma menina e eu um menino, foram amigos quase irmãos até os 11 anos. Depois os gostos se dispersaram. Tudo parecia combinado, mas nunca foi. Ela se naturalizou Carnaubaense e a amizade foi ficando mais sólida, embora cada uma no seu toado. E veio à aprovação no concurso da prefeitura de Carnaubais, celebramos, porque essa conquista sinalizava a nossa liberdade financeira. Já efetivas trabalhamos na mesma Escola Princesa Izabel no Distrito do Entroncamento, éramos as professoras queridas recém-formadas e cheias de gás para ensinar. Logo depois ela veio para o Abel, maior escola do Município e eu continuei na Princesa Izabel, onde vivi momentos valiosíssimos, com uma turma de colegas professores que marcaram a trajetória daquela escola. Anos depois trabalhamos mais próximas, eu como coordenadora Pedagógica e ela como supervisora da educação de jovens e Adultos, passei a ser secretária se educação no ano de 2008 e ela supervisora. Aprendemos muito, conhecemos a sistematização da educação por outro ângulo, um ângulo mais abrangente. Vivemos momentos significativos para o crescimento profissional e custosos, porque não dizer. Fomos funcionárias efetivas também de Porto do Mangue. Eu menos tempo que ela. Em 2006 passamos no concurso do estado, feito por cidade, fizemos para Carnaubais, a ideia era ficar em casa, pois nessa época Deus já havia dado o privilégio de sermos mães. Não tem como falar de Ana, sem que não entre no contexto, pois estivemos juntas por muitas estações, ela sempre ela e eu deste modo. Quase nove anos depois dos nossos primogênitos, veio outra gravidez e de novo no mesmo ano, coincidentemente. Ela teve final feliz com a chegada de Ana Nerissa, linda, e eu, que sonhei tanto com outro filho inesperadamente perdi. Mas são assim os propósitos de Deus, nós não entendemos, mas ele sabe todas as coisas. Tocamos o barco, sala de aulas, problemas de saúde constantes, foram momentos tensos e partilhados... Ana se afastava de sala, colocava atestados, ia à perícia e tinha uns relatos estranhos, fazia exames, ficava roca, fez cirurgia no nariz, era julgada, aparentemente não tinha nada, viajava, fotografava, se expunha, era ativa, trabalhava e de novo adoecia, e de novo tudo começava, foram tamanhos os impedimentos. Alimentava-se de um jeito meio torto. Daí, em setembro de 2016, a encontrei na secretaria de educação, nesta época estávamos numa fase de distanciamento pela correria do trabalho, quando ela foi deixar um atestado e conversar com o secretário de educação Hélio Maria, sentamos um pouco na mesa redonda para conversar, relatou-me que tinha feito uns exames e a mastologista pediu para fazer uma pulsão com urgência.... A partir da mesma, desencadeou tudo. Diagnóstico bombástico, câncer agressivo, triste, começa a corrida pela vida, ela parecia doutro mundo, a gente desanimava e ela surpreendia. Íamos visitar com olhar penoso, ela sorria e demonstrava que a força que carregava ia fazê-la vencer. Campanhas, orações e pensamentos positivos.
Foi a UTI, esteve debilitada, a imunidade baixou mais que o devido, corre para Mossoró... voltou feita leoa aguerrida, pronta para todas as lutas. Às vezes dava vontade de dar umas palmadas de tão teimosa, detestava máscara, ria na cara do perigo, bastava melhorar um pouco, lá estava ela, teimando de novo, saia de casa, não temia nada, fazia como sempre fez o que o coração mandava. Fez fotos lindas e apimentadas. Estimulou outras mulheres a se erguer, a acreditar, a continuar com fé. Desfilou, fez parte de um grupo chamado laços de mama, com uma proposta linda para reanimar vidas. E Ana, louca da vida! E cada vez mais com vida. E não existe força maior que a força espiritual. Ana Paz é uma prova. Seu câncer era agressivo, tinhosos, cruel... Já fez diversas cirurgias, já foi acometida por outras situações delicadas, preocupantes, contudo não perde a majestade. Não perde a fé, não perde Deus de vista. Ana é doutro mundo, deve ter nascido para desafiar e quebrar paradigmas, e que bom que essa danada vence todas. Ana é exemplo de quem vive de verdade, e com seu jeito de ser, confiante, torna-se eterna. Assim a gente passa a entender que os danos ou ganhos dependem da perspectiva e possibilidade de cada um, à medida que vai tecendo sua história. É compreensivo que o mundo não tem sentido sem um olhar de fé, de esperança e de sonhos. Sonhar sim, porque se desistirmos disso apaga-se a última claridade e nada mais valerá a pena. Ana sonha, Ana acredita, Ana vence, Ana aceita, Ana chora, Ana ri, Ana ousa, Ana caminha, Ana é Ana, nunca foi santa mas é cheia de fé. E é isso, viver é reinventar-se!

Josélia Coringa

Compre já o seu livro: 


  • (84) 99916-8068

  • Ligações sociais
    ana.paz7(Instagram)




Nenhum comentário: