domingo, 6 de março de 2011

E QUEM SE INTERESSA?


Educação: ela nos interessa?
Sobre educação a gente deve ler Gustavo Ioschpe (também colunista da Revista Veja) e a quem conheci menininho, e refletir até o fim dos tempos.
Envergonhar-se e chorar, ou ter uma derradeira esperança. Eu, em geral otimista, até considerada ingênua, nesse assunto contínuo cética. Basta ver o lugar que ocupamos nas melhores avaliações internacionais, atrás de países nos quais eu nem cogitaria, tratando-se de educação. Estamos abaixo da esmagadora (literalmente) maioria. Não seria preciso a opinião de bons institutos internacionais ou nacionais, está debaixo do nosso nariz, e cheira muito mal: nossa educação está abaixo de qualquer crítica. E pode piorar, pois temos um ensino cada vez mais relaxado, uma autoridade mais inexistente; agora se pensa em não reprovar mais ninguém nos primeiros anos, isto é, vamos lhes mentir que estão aprendendo, como disse uma autoridade em ensino.

Escolas caindo aos pedaços, professores pessimamente pagos, e mal preparados (cadê tempo para ler, estudar, progredir, se todos precisam de algum bico para defender o pão de cada dia?). Sem bibliotecas (ou com elas abandonadas) nem computadores - alguns foram doados, mas não há quem os instale ou os saiba manejar. E o povo não sabe que o melhor modo de subir na escala social é pela educação, que é informação, e formação, é força, é poder. Vai ajudar a tomar decisões mais acertadas, fazer melhores escolhas, conseguir emprego ou subir de cargo, ser mais gente, cuidar melhor de si e dos filhos, alimentar-se melhor, viver melhor. Gostar mais de si mesmo, valorizar-se e ser valorizado. E assim construir um país mais humano, mais digno, mais justo.

Não vejo muitos governos, líderes de verdade querendo um povo educado, isto é, informado. Pois quem se informa, quem sabe das coisas, questiona a situação da sua comunidade, seu estado, seu país. Questiona sua própria condição. Não vai mais querer morar em cima de velhos lixões mal disfarçados, ver seus filhos comendo restos, brincando com água de esgoto, morrendo por falta de cuidados essenciais.

Quem se educa, isto é, pode ler e entender melhor as coisas, não vai mais aguentar calado - distraído com alguns dinheirinhos a mais, estimulado até a comprar o que não poderia, pois não vai conseguir pagar a próxima prestação - que seus velhos não tenham assistência, que a aposentadoria, quando existe, seja de fome, que as crianças morram em corredores de hospital, ou precisem ser levadas horas a fio até o posto de saúde mais próximo - que pode estar fechado por falta de médico ou até de remédios. Nós não somos assim. Não aceitamos morrer de sujeira, doença, fome, falta de assistência, de informação, de dignidade. Quem se informa e sabe das coisas não vai mais achar que a corrupção nos altos escalões é assim mesmo, a política é assim, não tem jeito, "a casa já caiu, temos de nos conformar", como disse um resignado homem numa entrevista.

Um povo educado é como um filho positivamente rebelde que não aceita injustiças, gritos, brutalidade ou humilhações em casa. Um povo educado reclama. Um povo educado elege diferente. Um povo informado - que teve escola, lê jornal, conhece livros, assina sabendo o que está naquele papel, interpreta o que vê na televisão ou escuta no rádio - ambiciona para seus filhos algo mais do que viver na rua e morrer na esquina. A educação nos faz enxergar com outros olhos o que acontece no país e no exterior - sim, pois a gente sabe o que se passa em outros lugares - e sair da resignação mortal para o desejo ativo de que as coisas melhorem. E começa a colaborar para que elas mudem. E vai reclamar de quem mentiu, prometeu e não cumpriu, foi corrupto, ficou impune, pensou em mais poder, e não na sua gente. Assim, devagar, usando de firmeza e inteligência, sem violência, sem agressão, quem se educou vai começar a mudar seu país. E por isso não me importo de repetir, repetir e repetir: a gente pode ser mais feliz. A gente pode ser mais gente. A gente precisa, com urgência, de verdade, que a educação seja prioridade de todos para todos, nesta nossa terra.

Fonte: Revista Veja.

Lya Luft

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