Todo Coringa da Várzea do Açu tem vinculação a Lemos. Por isso, os ancestrais eram chamados e registrados como Coringa de Lemos. Como caracteres pessoais, eram e são conhecidos como inteligentes, aptos às atividades da mente e se destacaram em várias ações intelectuais. No jornalismo, conhecemos Ubiratan de Lemos, filho de Juvino Fernandes de Lemos, varzeano-do-açu que se incorporou aos soldados da borracha na década de 30, indo estabelecer-se no Alto Amazonas de onde saíram Juvino Fernandes de Lemos Filho, para Manaus, e Ubiratan de Lemos para o Rio de Janeiro, onde foi repórter e diretor da revista O CRUZEIRO, enquanto viveu, deixando por lá irmãos e filhos seus dedicados ao jornalismo.
Francisco Coringa de Lemos, conhecido por Chico Ligeiro, era poeta. Envolvido numa demanda judicial, por discordar dos limites de propriedade impostos por seu vizinho João Rodrigues Ferreira de Melo – Joca de Melo – que, por ser mais abastado e poderoso, era acusado de desrespeitar as marcas tradicionais das confrontações existentes e, invadindo limites das propriedades, abusava de acordos já estabelecidos. Não concordando, Chico Ligeiro derrubou os marcos de confrontações de áreas rurais, apostos por assalariados de Joca de Melo, provocando a pendência que o fizera ser conduzido, preso, para decisão na Intendência do Açu, o órgão administrativo e judicial da época que punha no lugar as controvérsias, resolvendo as desavenças entre os discordantes. Por isso, foi Chico Ligeiro conduzindo para a cidade de Açu, em uma embarcação, visto estar a várzea inundada por uma das fabulosas enchentes do rio Açu. Na Intendência, instalado o Conselho de Justiça, a Chico Ligeiro foi dada oportunidade de se manifestar e, pedindo para produzir em versos a sua defesa, entoando de improviso os próprios argumentos, assim se manifestou:
Eu vi minha terra
Sumir-se ligeiro,
Vi os cajueiros,
De mim se afastar
O lenço, de longe,
Eu ia acenando
E o barco vagando
Nas ondas do mar.
Dado o imenso volume das águas que inundavam a região, transbordando dos leitos e dos córregos, ele chamava de mar, o que facilitava a rima dos versos que entoava.
Deixei minha terra,
Meus rios, meus montes,
Deixei horizontes,
Me pus a chorar
O lenço de longe,
Eu ia acenando
E o barco vagando
Nas ondas do mar.
Deixei meus filhinhos
Que lá se ficaram,
E tanto choraram
A minha partida.
Deixei a consorte
Que também chorava
Porque eu lhe deixava,
Cruel despedida!
Deixei minha terra,
Dali eu parti.
Eu muito senti,
Pois feri um nobre.
Se eu tiver vida
Ainda hei de vê-lo
Mais rico e mais nobre
Que quando parti.
Como resultado, os seus desafetos reconheceram o valor do poeta e desistiram da pendência, proclamando o esbulho dos direitos reclamados pelo poeta. O texto é de autoria de Gilberto Freire de Melo
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