domingo, 15 de março de 2015

ESCOLA PRINCESA ISABEL E SEU MARCO HISTÓRICO

É nas atitudes simples e pequenas, antes que nas grandes e visíveis, que por vezes reconhecemos o valor dos mortais.
                                                              Josélia Coringa

No início da década 60 o modelo de escola vigente ainda era a Escola Isolada antecedente aos Grupos Escolares, esse modelo acolhia a população tanto do meio rural quanto do meio urbano. As Escolas Isoladas, segundo Bittencourt, eram chamadas de “escolas populares e atendiam a uma população bastante diversificada que incluía alunos de cursos noturnos, tanto das áreas rurais quanto  urbanas (...)” Na nossa cidade não era diferente. Havia as escolas isoladas geridas pelo estado e as escolinhas que funcionavam na residência de professoras em algumas comunidades, geridas pela gestão municipal.

As Escolas Isoladas só possuíam uma série. O ensino dessa série, na maioria das vezes, era ministrado na casa da professora, que funcionava sem material  didático, cada aluno levava seu caderno para que a mesma escrevesse  as atividades. Os principais recursos de apoio ao professor eram a cartilha de ABC e a tabuada por sinal os livros fundamentais da época. Na maioria das vezes os alunos também precisavam levar seus tamboretes para assistirem as aulas no alpendre ou na sala das casas das professoras. Assim construía-se a aprendizagem, crianças eram alfabetizadas, quando mereciam ficavam de castigo e tomavam palmatórias nas mãos. Os valores cravados eram muitos, a professora era respeitada como a segunda mãe até porque disponibilizava seu espaço familiar para servir aos seus alunos.

Dessa forma, o primeiro grupo que viesse a ser fundado na localidade em que a mesma se encontrava era feita a transferência  para nova sede. Foi assim que brotou a princesa.

Antônia Neta de Andrade, vizinha do Sr. Francisco Santana, foi pioneira da educação na nossa escola. A casa que morava era uma construção bastante antiga, do tempo dos escravos, ainda feita de sapé e barro nas imediações da escola atual. Foi na mesma que nasceu a Princesa Isabel, por volta de 1964 Dona Antônia, começou a dar aulas em sua residência no governo de Rivadávia Alves Cabral, no ano seguinte foi convidada pelo prefeito Valdemar Campielo Maresco a continuar suas atividades de professora e ser remunerada pela prefeitura. Nessa época, tudo era mais difícil, família grande, muitos filhos para criar e uma disposição incansável. Além das atividades domésticas, seu dia a dia era bastante corrido, ajudava as pessoas quando estavam enfermas, era uma espécie de enfermeira na comunidade, tirava terços para defuntos e rezava novenas. Era um tanto letrada e se destacava por seus feitos admiráveis, mulher de fibra, de pele negra e coração grandioso.

Tinha como melhores amigas Izabel Matias e Francisca Romana e uma ocupação que lhe dava prazer era cuidar da família, casada com Olegário Andrade de Amaro com quem teve oito filhos.

Certo dia recebe em sua casa a visita da Senhora Zulmira Bezerra de Siqueira, mulher sábia e respeitável na educação e política de Carnaubais, numa conversa formal sugere nomear a escolinha da casa de “Princesa Isabel”, a partir de então a escola seria registrada com esse nome, argumentando a mesma que Princesa Isabel merecia ser homenageada pela sua atitude de assinar leis tão importantes para história do país. Princesa Isabel Filha de D.Pedro II, foi  a responsável pela assinatura da Lei Áurea, que aboliu a escravidão no Brasil, em 13 de maio de 1888. Foi responsável também pela assinatura da Lei do Ventre Livre (1871), que estabeleceu liberdade aos filhos dos escravos a partir daquela data. Mas como diz: Mércio Franklin
A luta não acabou, temos que difundir a ideia da consciência negra na sociedade para que tenhamos um estado tolerante onde prevaleça a igualdade racial, sem preconceitos.
                                                                                                       
É possível que Zulmira Bezerra de Siqueira profunda de conhecimentos e desnudada de preconceitos, quis enaltecer igualmente a Senhora Antônia Neta de Andrade, professora alfabetizadora, dando-lhe oportunidade de ser uma mulher reconhecida pelos seus feitos independente da cor da pele. Já que o preconceito era tão exagerado naquela época.

Anos mais tarde acometida por um grave problema pulmonar, Dona Antônia viaja pela primeira vez a Natal para tratamentos de saúde e dessa viagem não voltou, faleceu em 24 de julho 1969, como seus familiares eram muito pobres não tiveram condições de fazer o translado do seu corpo para sepultamento aqui na nossa cidade, pessoas conhecidas, tomaram conta do velório e a enterraram em um cemitério na capital, deixando seus filhos e demais familiares apenas com lembrança e dor por sua partida. Por um momento, foi como se o mundo tivesse parado, todos ficaram atordoados com o acontecimento.

  Depois disso, seu Olegário Amaro de Andrade viu-se numa situação ainda pior, pois a renda que entrava em casa encurtou e eram muitos filhos para criar sozinho, foi então que numa reunião política Dr. Edgar Montenegro, Astério Barbosa Tinoco e Zulmira Bezerra decidiram ajudar a família Olegário Andrade, passando para sua filha Maria de Lourdes Olegário o cargo de professora, e aos 15 anos, ainda na sua fase adolescente ela começa a desapontar como alfabetizadora na sua humilde casinha de taipa. "Aprendi o ofício com minha mãe, uma mulher que trabalhava dia e noite para sustentar a casa, junto com meu pai." Ao descrever  traços da sua trajetória  ela se emocionou e por instantes parou...O que mais lamento é não ter tido a oportunidade de ver minha mãe pela última vez, tampouco visitar o lugar onde foi enterrada...”
  Em 1971 começa a construção do grupo escolar, próximo a sua residência, mas a instituição foi autorizada a funcionar em 02 de fevereiro de 1972, quando houve a transferência da escola da casa de taipa “Princesa Isabel” para o novo prédio, inaugurado no ano seguinte 1973. O governo da época era Valdemar Campielo Maresco e o seu vice Sr. Manoel Alves do Nascimento. Até a presente data, Infelizmente não sabemos sobre o Decreto de Lei que a instituiu. Essas informações são frutos de relatos orais. Sabemos, portanto que Dona Antônia e Lourdes Olegário, foram às desbravadoras da história, merecem todas as homenagens e de forma justa, também que se registre o aniversário da nossa instituição dia 13 de maio, em menção a essas mulheres que marcaram com caneta de ouro a educação de Carnaubais, em especial da comunidade Entroncamento.
  "É fundamental preservar a memória daqueles que não têm lugar nos manuais de história, salvaguardar os seus testemunhos e depoimentos", disse o filósofo alemão Walter Benjamin (1892-1940), que defendia, como ele próprio chamava, a "história dos vencidos". Ou dos excluídos. Onde mais a experiência de vida e a contribuição para comunidade de duas professoras poderiam ser conhecidas senão entre seus familiares e amigos?

Texto escrito por Josélia Coringa para o PPP da Escola Princesa em outubro de 2014. 
Gestão: Ruan Carlos


                                       

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