domingo, 28 de setembro de 2014

É NELAS QUE VOU VOTAR DE NOVO E DE NOVO...


Fátima não é FILHA DA TERRA mas,  sua atuação parlamentar é um prova de que ser filho da terra não é garantia de compromisso com os interesses de um povo. O compromisso vem da responsabilidade, do caráter e da ciência de que um mandato político é para ser exercido, em sua PLENITUDE, a favor daqueles que acreditaram não em "juramentos", mas em propostas concretas e muito TRABALHO.
O histórico parlamentar da deputada federal Fátima Bezerra dá respaldo, mais que suficiente, para pleitear um mandato de senadora da República pelo estado do Rio Grande do Norte. O compromisso de Fátima  com as causas da EDUCAÇÃO e da cidadania, além de seu histórico em defesa dos interesses do povo do Rio Grande do Norte, nos dá a certeza de que Fátima Bezerra é o nome ideal para representar os interesses do povo potiguar no senado da República.


O voto dado e a representação política exercida são ou deveriam ser em favor de causas e interesses coletivos. 

AS PESSOAS PRECISAM A APRENDER A LIÇÃO DE ULYSSES GUIMARÃES: RADICALISMO VEM DE RAIZ E É NECESSÁRIO SERMOS RADICAIS EM NOSSA IDENTIDADE DO EU; DO CONTRÁRIO SEREMOS MARIA VAI COM AS OUTRAS. JÁ SECTARISMO VEM DE DOGMA,SEITA, SEM RACIONALIDADE. Concordo com Dr Maurilton Morais...

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Nós, juventude de luta, estamos com Dilma



Gabriel Nascimento

Os jovens que vão votar em Marina como se ela fosse o Messias da "nova política" estão equivocados, e precisamos dizer isso a eles

Desde junho de 2013 a juventude brasileira clama por uma nova política. O clamor, longe de ser representado por Marina Silva e Aécio Neves, era por mais presença do Estado e não sua ausência.
Calcada na ideia mirabolante de desregulamentação do Estado, Marina Silva surge na mesma lógica de Collor, prometendo nova política, e a juventude brasileira se lembra bem onde isso foi parar. Marina é a candidata dos bancos privados, esses que lucram aqui como em nenhum outro lugar, mas que sempre querem mais. Querem governar a economia de um país soberano. Marina é a candidata deles. Eles que querem Estado mínimo. Não, a juventude de junho, ainda que não tivesse tal conceito definido, não queria Estado mínimo. Queria transporte de qualidade, saúde de qualidade e educação de qualidade. As bandeiras neoliberais de desregulamentação do Estado e privatização já nos mostraram que a exemplo de outros lugares do mundo não é bem qualidade que o grande empresariado nacional quer nos propiciar. É especulação, precarização trabalho e alienação do capital humano.
Os jovens que vão votar em Marina como se ela fosse o Messias da "nova política" estão equivocados, e precisamos dizer isso a eles. Nós, juventude de luta, estamos com Dilma. Estamos com os governos populares que mais se preocuparam com políticas para a juventude. E esses governos foram os de Lula e Dilma. Foram os governos que criaram uma secretaria nacional só para cuidar de nossa juventude, a Secretaria Nacional da Juventude. Foram os governos que efetivaram o Conselho Nacional de Juventude. Esses instrumentos propiciaram políticas públicas sem precedentes na história do Brasil. A Estação da juventude, projeto vinculado à Secretaria Nacional de Juventude, está inserida em diversos municípios brasileiros com projetos voltados aos jovens e à sua emancipação política e social, promovendo lazer. O plano Juventude Viva é outro deles. Este surgiu com o intuito de reduzir o genocídio da juventude negra em nossas periferias, através de uma plataforma nacional.
Os jovens de junho queriam mais espaço na política. A presidenta Dilma sancionou o Estatuto da Juventude, um marco para a juventude brasileira ter direitos garantidos, como o direito à participação social, ao lazer, à educação e à saúde etc. A candidata Marina Silva está longe de atender a esses anseios dos milhões de jovens brasileiros. Muitos desses jovens, graças aos governos Lula e Dilma, estão nas universidades públicas criadas nos últimos dez anos, estudando, ganhando bolsas de produtividade, fazendo pós-graduação, como eu. Marina não tem condições de atender porque promete enxugamento do Estado e não diz onde vai enxugar. Toda vez na história do mundo ocidental que ouvimos isso os gastos com programas sociais, saúde e educação foram cortados. Essa é a pauta prioritária da candidata verde por fora azul por dentro. Aliada a banqueiros e empresários sonegadores, Marina tem em sua equipe defensores do Estado mínimo e da independência do Banco Central. Será que os jovens portadores do crédito FIES, que hoje cursam pela primeira vez uma faculdade, sabem que a taxa de juros que, com a independência do Banco Central pode vir a subir demasiadamente, pode encarecer muito mais seu futuro e comprometer seus pagamentos? Eu, francamente, acho que não.
É por isso que temos que debater com a juventude brasileira. A juventude que vota aos 16 desde que uma entidade dos movimentos sociais, a União da Juventude Socialista, defendeu a pauta e ganhou. A juventude que derrubou Collor e não se curvou ao neoliberalismo. A juventude que elegeu Lula e ajudou a construir as políticas públicas desses últimos 10 anos. Nós, juventude de luta, estamos com Dilma.https://www.brasil247.com/get_img?ImageId=391352

 GABRIEL NASCIMENTO

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Ei! Você já sabe em quem vai votar??



Aproxima-se as eleições, as campanhas se acirram, pesquisas verdadeiras e mentirosas já definem vitoriosos, os latejos e promessas se multiplicam, uns se separam, outros se unem, outros se retraem, outros pinotam para lá e pra cá, e as cores se misturam fazendo a arena nas ruas. Que política é essa? Que confusão é essa?

Caminham desprovidos de confiança?  Em  quem apostar, a quem eleger? Muitos se perguntam?
Fico imaginando quem dará mais base, exemplo, rumo e prumo: se tantos mudam de partido, se ainda se criam partidos, e se confundem as ideologias - ou elas nem existem mais. Será que não é melhor ficar no que está? Penso que sim. Por isso já tenho definida a minha candidata maior.  

É compreensível que não dá para arrumar tudo. Nem rei, nem papa, nem ela, nem o mais hábil dos políticos, mudaria a face do país com um golpe de espada ou caneta. Mas que tem de avançar, ah,  tem sim, para que a gente durma e acorde ao menos com a sensação de que, em algumas pessoas, algumas instituições e alguns políticos ainda se podem apostar.
Tem muita gente boa, ainda, querendo fazer a querela.




A HISTÓRIA NÃO DEVE SE REPETIR!

O que aconteceu com a classe média brasileira?  Esquecimento?  Gosta de sofrer?

Elegeram Collor apesar de serem avisados  do risco. Deu no que deu, fez um péssimo governo, sofreu o impeachment.  A equipe econômica, com Zélia Cardoso e André Lara Rezende, confiscou a poupança. Foi um horror, pessoas suicidaram-se por desespero. O mesmo  Lara Rezende que vai fazer parte da equipe econômica da Marina Silva.

Elegeram FHC, foi um terror  para o país e para o povo brasileiro. Privatizações escusas, arrocho salarial, desemprego recorde, FMI mandando e desmandando na nossa economia, 54 milhões de pessoas vivendo na miséria. Juros estratosféricos, o país quebrou três vezes, dívida imensa externa e interna. Comprou votos no Congresso para a reeleição. Tentou privatizar a Petrobras, o BB, a Caixa Federal. O povo não tinha crédito, tinha que  recorrer a agiotas com juros de 20% ao mês se necessitasse de dinheiro. O povo comeu o pão que o diabo amassou.

Agora  querem eleger Marina Silva. Ligada diretamente com banqueiros,  que querem cada vez mais lucro, o povo vai ser massacrado.  O desemprego será imenso, o crédito  pessoal vai sumir  e os juros serão insuportáveis. Os banqueiros vão ditar as regras para economia. Ela vai entregar o pré-sal  aos EUA, vai privatizar a Petrobras com ajuda do PSDB/DEM. Essa é nova política?

Os homossexuais não terão direitos no governo Marina Silva, o fundamentalismo evangélico vai ditar o comportamento da população. Vai ter censura de programas, de filmes, livros, revistas e até de vestimentas, que serão julgadas adequadas ou não. O Brasil deixará de ser um estado laico, as religiões africanas serão dizimadas. Marina Silva e seus  bispos mentores são fundamentalistas da Assembleia de Deus!

Os programas sociais  de Lula e Dilma vão acabar, o país vai viver um caos. As obras  de infraestrutura do PAC serão suspensas, causando um grande prejuízo  para o país e para o povo.

O agronegócio e a pecuária  não vão  ser muito prejudicados  porque toda a produção será voltada para a exportação, mas vão faltar alimentos, carne e leite, que terão preços estratosféricos.  O  desemprego será novamente imenso. Marina Silva vai  cortar os incentivos para os pequenos produtores agrícolas.  Não vai ter mais  Mercosul, Unasul ou BRICS, ela vai se unir  com o  EUA, com  a  ALCA, e vai  ter a volta do FMI.

E novamente, como ocorreu com Collor, o povo vai às ruas pedir o impeachment. É isso que desejam para o país, para o povo, para seus filhos?  Vai ser um grande  pesadelo se, por uma imensa desgraça, ela se eleger!

PorJussara Seixas

PENSAMENTO.

O Egoísmo Pessoal Tapa Todos os Horizontes O mal e o remédio estão em nós. A mesma espécie humana que agora nos indigna, indignou-se antes e indignar-se-á amanhã. Agora vivemos um tempo em que o egoísmo pessoal tapa todos os horizontes. Perdeu-se o sentido da solidariedade, o sentido cívico, que não deve confundir-se nunca com a caridade. É um tempo escuro, mas chegará, certamente, outra geração mais autêntica. Talvez o homem não tenha remédio, não tenhamos progredido muito em bondade em milhares e milhares de anos sobre a Terra. Talvez estejamos a percorrer um longo e interminável caminho que nos leva ao ser humano. Talvez, não sei onde nem quando, cheguemos a ser aquilo que temos de ser. Quando metade do mundo morre de fome e a outra metade não faz nada... alguma coisa não funciona. Talvez um dia!

José Saramago, in 'La Verdade (1994)'

Escrito a 20 anos atrás e será que alguma coisa mudou???

domingo, 21 de setembro de 2014

CUIDADO COM A LÍNGUA!!!


Dicionário reúne termos usados no período eleitoral

O Dicionário Criativo é um conjunto de verbetes online que extrapola a simples definição das palavras. Ele inclui também expressões populares e mostra termos relacionados, fotos, citações e metáforas com os verbetes. Este mês, um especial de eleições reuniu os termos mais usados durante as campanhas políticas, desde os clássicos até aqueles que surgiram especialmente para este pleito.


O especial é composto por quase 170 verbetes que, tanto explicam expressões oficiais que muita gente não entende, quanto dão o significado de expressões criadas e difundidas por militantes dos diversos movimentos. Ao mesmo tempo que inclui a palavra "Cassação", usada para a revogação ou anulação de um mandato político, explica o termo "Bagre ensaboado", que é uma pessoa infiltrada em um partido adversário.

"Eu sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor

Morre Nelson Biasoli, compositor de canto popular da torcida brasileira

"Eu sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor". O autor do canto que embala desde torcidas esportivas até manifestações políticas faleceu nesta quarta-feira (17). O músico Nelson Biasoli tinha 83 anos e morava em Tambaú, interior de São Paulo. Poucos sabem, mas a música muito entoada durante a Copa do Mundo de 2014 se chama "Grito de Guerra" e foi feita, em 1949, para uma competição estudantil de Ribeirão Preto (SP).

Foto: Danilo Borges / Portal da Copa
Em sua vida, Biasoli criou cerca de 900 músicas. Sua carreira foi marcada pela composição de hinos de municípios paulistas, como Getulina, Serrana e Jardinópolis.

Falando nisso
No artigo "O passado que o futebol canta", da Língua 59, Jean Lauand afirma: "Quando analisamos as letras dos hinos em geral - e também os (oficiais ou não) dos times de futebol - frequentemente nos deparamos com uma linguagem estranha: ufanismos mais ou menos ridículos; belicismos, anacronismos; exortações que tinham sentido na época em que foram compostos, mas não hoje; etc.". O texto completo está disponível neste link.

A língua diz muito...

Léxico, a alma da língua

A língua diz muito sobre o povo que a fala. Não tanto a gramática, que, apesar de ser a moldura de nossos pensamentos, é algo sobre o qual temos pouca ou nenhuma ingerência. Para muitos, uma gramática complicada seria reflexo de uma cultura burocrática e cerimoniosa. Nada mais falso! Populações de vida extremamente simples, como a maioria dos povos tribais, têm às vezes gramáticas muito complexas. Já os britânicos, conhecidos por seu tradicionalismo e cerimônia, falam uma das línguas gramaticalmente mais despojadas.
Na verdade, é o léxico o espelho da alma de um povo, é aí que reside sua legítima criatividade. Por meio das palavras é possível compreender o modo como uma comunidade de falantes pensa a realidade, os valores que lhe são importantes, a maneira de organizar a própria vida. O vocabulário é a lente pela qual vemos a existência.

Línguas indígenas não têm termos técnicos, científicos ou jurídicos. Em compensação, denominam cada arbusto, cada touceira de mato, cada gramínea de modo diferente porque, para os índios, a floresta é muito importante, é seu hábitat, sua fonte de alimento, sua farmácia e a morada de sua espiritualidade.

Algumas línguas de povos tribais não têm numerais acima de três ou cinco, assim como não distinguem mais do que quatro ou cinco cores, pelo simples fato de que não precisam de toda essa riqueza vocabular típica das línguas de civilização para dar conta de experiências cotidianas bastante corriqueiras. Já o nosso léxico, de 200 mil palavras, destina mais da metade desse número a cobrir áreas de extrema especialidade.

Ilya Prigogine, prêmio Nobel de química em 1977, certa vez lamentou que as línguas ocidentais tivessem tantos nomes para cores, distinguindo às vezes tons que o próprio olho mal percebe, e ao mesmo tempo tivesse uma só palavra para o amor. Dizia ele: “tenho quatro filhos, e amo cada um deles de modo diferente; no entanto, no dicionário esses quatro sentimentos se chamam simplesmente ‘amor’”. Assim como é amor o sentimento do filho pelos pais, do marido pela mulher, do enólogo pelo vinho, do avarento pelo dinheiro... Enquanto isso, para os comerciantes de tecidos uma fazenda marrom pode ser castanho, camurça, caramelo, champanhe, terra, café com leite, tabaco e mais uma porção de outros matizes, além, é claro, do próprio marrom.

Se o léxico é o espelho da alma de um povo, então nossa civilização pós-industrial dá mais valor à técnica e à produção do que aos sentimentos. Se a língua reflete nossa escala de valores, que valor tem em nossa cultura o amor, a amizade, a solidariedade?


Por Aldo Bizzocchi

Sobre os textos motivadores

Qual o objetivo da "Lei Seca ao volante"?
De acordo com a Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), a utilização de bebidas alcoólicas é responsável por 30% dos acidentes de trânsito. E metade das mortes, segundo o Ministério da Saúde, está relacionada ao uso do álcool por motoristas. Diante deste cenário preocupante, a Lei 11.705/2008 surgiu com uma enorme missão: alertar a sociedade para os perigos do álcool associado à direção.
Para estancar a tendência de crescimento de mortes no trânsito, era necessária uma ação enérgica. E coube ao governo federal o primeiro passo, desde a proposta da nova legislação até à aquisição de milhares de etilômetros. Mas para que todos ganhem, é indispensável a participação de estados, municípios e sociedade em geral. Porque para atingir o bem comum, o desafio deve ser de todos. (Disponível em www.dprf.gov.br . Acesso em: 20 jun. 2013)


O primeiro parágrafo traz informações que comprovam a influência do álcool em acidentes e mortes no trânsito, e mostra a importância da Lei 11.705/2008 para alertar sobre os riscos de associar álcool a direção. O segundo, a partir da conjunção adversativa (mas), cita uma condição para que a lei produza os seus efeitos: haver a participação de todos.


A eventual omissão de estados, municípios e da sociedade tornaria inúteis os esforços dos que se empenharam para criar e aprovar a nova legislação. Esse era um dado problemático, e praticamente se impunha ao candidato o dever de comentá-lo, discuti-lo, posicionar-se sobre ele. Isso poderia ser feito por meio da resposta a questões como: o que impede que estados e municípios participem do desafio de cumprir a lei? qual a melhor forma de estimular essa participação?


Saber usar os textos motivadores concorre para que se produza uma boa redação... Uma das funções desses textos é despertar ideias para o desenvolvimento do tema. Outra, não menos importante, é ajudar a manter o foco temático (o desrespeito ao foco é um dos problemas mais graves na produção textual).

O candidato deve aproveitar os textos motivadores sem copiar, pois cópias não são consideradas para a contagem do número de linhas e podem, quando em excesso, levar ao 0 (zero) (Cf. o Guia do Participante Enem 2013, p. 11). Há professores que, temendo essa possibilidade, chegam ao absurdo de dizer aos alunos que os ignorem. Essa é uma orientação insensata e mesmo irresponsável, pois desconsidera que os textos existem para servir de orientação. Não estão ali por acaso, ou para enfeite. Ignorá-los pode fazer com que o candidato escreva uma redação genérica, tangenciando o tema. Além disso, priva-o de ter acesso a tópicos que podem (e às vezes devem) ser desenvolvidos.

Há nos textos motivadores, como se vê, informações que se prestam a discussão e sugerem pontos de vista a ser adotados pelo candidato. A banca os seleciona por ver neles aspectos relevantes do tema. Por outro lado, aproveitar esses textos de modo algum significa ficar preso a eles. Limitar a argumentação às sugestões que trazem, ou aos questionamentos que propõem, pode gerar um texto repetitivo e dar a entender que o candidato não tem ideias próprias. É preciso usá-los como estímulos, referências, e não como camisas de força.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

A MORTE DAS PALAVRAS

Palavras são como as pessoas: nascem, vivem e morrem. Umas de morte morrida, tão velhas ficaram como as coisas que designavam. Quem hoje penteia suas madeixas ou anda de tílburi? Quem hoje compra rapé ou usa pince-nez?
Outras morrem de morte matada: são substituídas por palavras mais modernas, mais "antenadas" com nosso tempo. Quem hoje chamaria o goleiro de quíper ou o médio-volante de centeralfo? Quem chamaria "locutor" de speaker? Quem ainda datilografa o próprio nome ou disca um número no telefone? Evidentemente, as palavras são o espelho da realidade e mudam com o mesmo dinamismo com que muda a realidade. Logo, não é de causar pesar a morte de certas palavras, embora outras, de tão belo uso em tempos passados na boca ou na pena de nossos grandes escritores, tenham sido sentenciadas de morte em tribunal de legitimidade duvidosa, como "favela", "aleijão", "prenhez"...


Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Mas o espantoso é que até palavras gramaticais, aquelas que não espelham a realidade, apenas fazem a língua funcionar, também morram - por vezes, assassinadas pelos próprios falantes. É o caso de "cujo", pronome relativo possessivo, muito útil no passado, mas que, talvez por obrigar a uma inversão sintática da oração, começou a causar embaraço aos usuários menos destros do vernáculo. Especialmente quando está em jogo outra pedra no sapato dos falantes egressos de nosso ensino público: a concordância. E assim até falantes supostamente cultos (pelo menos, portadores de diploma universitário) fazem certos malabarismos verbais para evitar o emprego de um "cujo" que, mal colocado, é uma verdadeira casca de banana à espera do transeunte incauto. E dá-lhe "a pessoa que o nome dela eu não lembro agora" ou "o sujeito que o filho é médico". Às vezes, ocorre o oposto: querendo parecer letrado, o gaiato sapeca um "cujo o qual": "troquei a lâmpada cuja a qual estava queimada".

Por razões que desconheço, "onde", antigo advérbio de lugar, tomou o lugar do falecido "cujo" em frases como "o candidato onde as propostas são melhores" e coisas do tipo. Talvez a origem desse uso tenha um dia sido de fato locativa: "a cidade cujos habitantes têm a maior renda" passou a alternar com "a cidade onde os habitantes têm a maior renda". Só que daí a "onde" virar palavra passe-par-tout foi um pulo.

E "tampouco", quem ainda usa? Algum trocadilhista poderia objetar que essa palavra hoje se usa tão pouco... Mas o fato é que renunciamos a um vocábulo legitimamente pertencente a nosso sistema gramatical, já que é antônimo de "também", para em seu lugar empregarmos o insípido e menos econômico "também não": Eu não fui à festa, e João também não". Claro que construções mais literárias como "Mas não estou triste, tampouco alegre, não estou sentindo nada, pode jogar água fervida no meu peito, não vou gritar, não vou levantar, eu não estou aqui, ninguém está me vendo, eu não estou me vendo" (Martha Medeiros) ficariam empobrecidas se tascássemos um "também não" no lugar de "tampouco": "Mas não estou triste, também não alegre...".

Vejam que não estou falando de palavras rebuscadas, índice de erudição pedante, como "obséquio" ou "contradança"; estou falando de palavras que têm equivalentes em outras línguas perfeitamente vivos e vigorosos: qualquer um que aprenda inglês ou espanhol terá de saber usar whose, either, neither, cuyo, asimismo, tampoco.

A realidade é que certas palavras e expressões como "outrossim", "sobremaneira", "deveras", "com efeito", "debalde", "dar azo", se perderam nas brumas do passado, e outras não nasceram para substituí-las. Ou seja, o idioma apenas se empobreceu de recursos expressivos, na mesma medida talvez em que se encheu de termos técnicos. Para um amante das palavras, para um cultor do estilo, para um admirador da língua, esse passamento dos vocábulos pode ser melancólico e suscitar nostalgia de um tempo quiçá mais poético. Mas, como disse Drummond na crônica Antigamente, "tudo isso era antigamente, isto é, outrora".

Por Aldo Bizzocchi

A cola das ideias

Coesão e coerência são fundamentais para criar o encadeamento adequado a um texto claro e convincente

Em simplificadora receita, o Rei do País das Maravilhas mostrou como escrever uma história - um texto ou uma boa exposição oral - ao responder ao Coelho Branco:

"Comece pelo começo e vá até o fim. Então, pare."

Verdade que a receita de Lewis Carroll (1832-1898), em As Aventuras de Alice no País das Maravilhas , é redutora, mas no fundo criar um bom texto se limita a começar, desenvolver e terminar. Está implícito na receita o fato de que o escriba seja ávido leitor, domine a estrutura da frase e as formas de expressão, goste de escrever e não raro sofra procurando as melhores palavras na ordem certa para transmitir o que quer. Tudo em busca da clareza que pressupõe duas qualidades: a coesão e a coerência.

Coesão é a conexão, a interligação, a concatenação entre as partes de um texto. Texto coeso é aquele em que os segmentos estão articulados uns com os outros. Num parágrafo marcado pela coesão, as frases se interligam em progressão harmoniosa, de forma que a primeira se encadeia com a segunda e assim por diante, como que anunciando a ideia seguinte. É a coesão de parágrafos integrados por períodos compostos ou não.

Compreensão
O fundamental é que o resultado seja um texto compreensível e sem vácuos, que fazem o leitor se sentir desamparado, como se deslizasse numa montanha-russa. É preciso que o texto flua tanto possível em harmonia para que o leitor (ou ouvinte) não precise se esforçar para imaginar o que o autor gostaria de ter dito. O texto obscuro, por falta de coesão e unidade, não parecerá inteligente por ser difícil, mas por indicar deficiência de raciocínio do autor.

Para facilitar a coesão, podem-se usar elementos de transição entre os segmentos do texto: advérbios, conjunções, locuções adverbiais, palavras denotativas e pronomes [quadro "Os conectivos"], embora o ideal seja o encadeamento ideológico, a coesão obtida pela sucessão natural das ideias e não por conectivos, que às vezes produzem concatenação forçada.

Unidade
Quanto à coerência, é a unidade do texto. Tem relação com causa e efeito, com consequência. A conclusão deve partir de premissas bem definidas, pois não se pode obter algum efeito sem que as causas sejam estabelecidas com clareza. Da mesma forma, certas causas devem produzir determinados efeitos.

Numa história, se uma personagem aparece, deve ter sido apresentada antes; se morre uma criatura, ela não pode aparecer depois sem explicação, a menos que seu ressurgimento seja atribuído a causas sobrenaturais. Da mesma forma, não fica bem para a coerência de um representante da classe jurídica ter feito um interrogatório como o seguinte, narrado no livro Desordem no Tribunal , sobre cuja existência há dúvidas porque não há citação da editora. Uma ou duas delas, como as seguintes, podem ser classificadas como exemplos de incoerência argumentativa.


Josué Machado

terça-feira, 16 de setembro de 2014

PARCEIRO DO MAIS CULTURA DA ESCOLA ADALGIZA ZELITO CORINGA


 NUMA VISITA HOJE A SALA DO 1º E 2º ANO DAS PROFESSORAS CONCINHA E DALUZ O MÚSICO FEZ A FESTA COM A CRIANÇADA.


ESCOLA ESTADUAL ADALGIZA EMÍDIA DA COSTA ENALTECE ALUNO NOTA 10.

                                     

A iniciativa é do professor Edson Cândido do 5º ano- matutino.
O Objetivo maior da premiação é incentivar os alunos a continuarem estudando,  combater a evasão escolar e contribuir para que se tornem pessoas melhores.
A cada bimestre são observados criteriosamente alguns requisitos como a disciplina, a assiduidade, a pontualidade, a aprendizagem entre outros aspectos que fizeram com que os alunos merecessem este destaque.
No final, além das medalhas os alunos foram convidados a comemorar com muito sorvete e na oportunidade Zelito Coringa apresentou o hino da escola e cantou música de sua autoria. A comemoração aconteceu mais uma vez na própria escola. Foi bem gratificante.
Dessa iniciativa e de muitas outras, já colhemos frutos, não foi em vão que o resultado do IDEB foi esse:


O professor não é um rato

Certa vez, um professor cismou que era um rato. Passou a comer restos de comida todos os dias. Trazia lixo para dentro de casa. Rastejava. Deixou os fios de seu bigode crescerem. Acreditava que eram uma antena que o ajudava a se locomover em ambientes sem luz.
 
Exprimia-se entre espaços apertados. Era comum vê-lo enfiar as mãos em brechas de paredes. Abria a geladeira e cheirava com impaciência todos os alimentos. Ficava roendo páginas de livros. Estava sempre à espreita, desconfiado.
 
Familiares e amigos, assustados com seu comportamento, resolveram levá-lo a uma clínica psiquiátrica, onde os médicos, durante meses a fio, se empenharam em fazer o professor tomar consciência de que era um professor, e não um rato. Lutaram para que se lembrasse de seu conhecimento, dos milhares de alunos que ajudou a formar, das centenas de milhares de provas e trabalhos que corrigiu.
 
Não era fácil. O professor queria fugir. Olhava para os médicos como uma cobaia presa no laboratório. Andava de um lado para o outro como se estivesse dentro de um labirinto. Às vezes, encurralado no canto de uma sala, tremia e guinchava.
 
Graças à persistência dos médicos, o professor foi aos poucos recuperando a sua personalidade. Perguntavam-lhe todos os dias: "O senhor é um professor ou um rato?" E lhe davam mil e um argumentos para se convencer de que era, de fato, não um rato. De que era um professor, um mestre, um educador!
 
Depois de um ano letivo inteiro, o professor deu sinais de que estava curado. As avaliações inter e multidisciplinares, os testes constantes, as provas, os exames indicavam que o professor voltara a ser professor. Nada de aprovação automática. Sua recuperação foi supervisionada passo a passo.
 
Num belo dia, os médicos deram-lhe alta com notas altas! E lhe disseram que podia voltar a lecionar.
 
O professor se despediu, caminhou pelo longo corredor, até sumir das vistas dos médicos e enfermeiros.
 
Dois minutos depois, o professor entrou espavorido, suando frio, olhos arregalados, na sala de um dos médicos. Gritava:
 
— Doutor! Pelo amor de Deus! Me ajude! Tem um gato na saída da clínica!
 
— Mas, professor, o senhor não precisa ter medo. O senhor é um professor, lembra-se? É um professor e não um rato.
 
— Certo, doutor. Isso eu já sei. Mas será que o gato também sabe?
 
Gabriel Perissé

domingo, 14 de setembro de 2014

AÍ SE EU TE PEGO...

“Ai se eu te pego”: uma análise comparativa

Analiso abaixo a letra da canção “Ai se eu te pego”, interpretada por Michel Teló, sucesso nacional e internacional. Na primeira estrofe, temos...

Sábado na balada
A galera começou a dançar
E passou a menina mais linda
Tomei coragem e comecei a falar

Cada verso e cada palavra de Teló nos conduzem a universos paralelos da cultura. O primeiro verso faz menção ao “Porque hoje é sábado”, em que Vinícius de Moraes revê a criação do mundo.

A balada a que se refere Teló alude àquele antigo poema com que se narrava alguma tradição histórica, acompanhado ou não por instrumentos musicais. Ou àquela peça puramente instrumental como cultivavam Chopin, Brahms ou Liszt.

A supracitada galera (“turma”, “amigos”, “gente”) de Teló se equipara ao decassílabo “Vogo em minha galera ao som das harpas”, de um poema de Castro Alves.

Reportando-se de novo ao poetinha Vinícius de Moraes (“Garota de Ipanema”), Teló também contempla a menina linda que passa. E vai além. Em êxtase, tomado pela excitação poética, num ato de coragem extrema, o baladeiro se declara:

Nossa, nossa
Assim você me mata
Ai se eu te pego, ai ai se eu te pego
Delícia, delícia
Assim você me mata
Ai se eu te pego, ai ai se eu te pego

A dupla exclamação — “nossa, nossa” — nos remete à admiração de que falava Aristóteles como ponto de partida da reflexão filosófica, ou pode se tratar também de uma forma reduzida da interjeição “Nossa Senhora!”, inserindo o poema no amplo cenário (e não menor mercado) das composições religiosas.

Outra referência inconfundível é o locus poético em que amor e morte se encontram — o clássico “morrer de amor”. O verso “Assim você me mata”, que o cantor faz acompanhar com o abanar da mão em direção ao rosto (simulando morte por asfixia ou enfarte), equipara-se a momentos sublimes da poesia romântica de Gonçalves Dias ou Casimiro de Abreu. Há, entre outros exemplos, um soneto em que Camões, dirigindo-se ao Amor, com ele se queixa: “Que vida me darás se tu me matas?”

Aqui termina o poema de Teló, com uma concisão que lembra Paulo Leminski e Mario Quintana.

Mas parece que os imortais que acima citei não gostaram das comparações feitas aqui. Das suas tumbas erguem-se vozes, cantando em uníssono:

Perissé, Perissé
Assim você nos mata!

sábado, 13 de setembro de 2014

Políticas Públicas.

Educadores no exílio

Por que os grandes educadores brasileiros não inspiram o labor das escolas
José Pacheco

Era uma vez...duas escolas, lado a lado a um córrego poluído. Por décadas, essas escolas deram aula de educação ambiental a alunos moradores de palafitas precariamente edificadas sobre o córrego. Até que uma das escolas alterou o seu modus operandi e os efeitos não se fizeram esperar. Jovens desmotivados motivaram-se, empreenderam freirianas leituras do mundo, o rendimento acadêmico melhorou, a comunidade estreitou laços com a escola, a recuperação do córrego começou.
O fenômeno gerou curiosidade. E o secretário de Educação quis saber a origem do inusitado projeto. Apercebeu-se de que, a par dos benefícios, era menor o custo. Membros da comunidade que acompanhavam o projeto dessa escola faziam-no gratuitamente.
No primeiro encontro com a secretaria, um dos educadores fez uma crítica construtiva e fundamentada ao modo como a formação vinha sendo realizada, por induzir os professores à reprodução de um obsoleto modelo de escola. As técnicas da secretaria responsáveis pelo setor da formação foram fazer “queixinha” ao seu chefe. O chefe, por sua vez, queixou-se ao secretário. E o senhor secretário mandou suspender o projeto.
Cansei-me de assistir à destruição de projetos por via de caprichos de governantes, da incompetência de funcionários, da sanha persecutória de burocratas. A falta de conexão com as realidades de comunidades não prejudica apenas o desenvolvimento cognitivo dos jovens – afeta negativamente o exercício da cidadania e sedimenta a submissão a um modelo excludente de sociedade.
Houve quem tentasse dar sentido à escola sem sentido. No tempo dos mestres Anísio, Agostinho, Lauro, Darcy, Freire, o Brasil parecia encaminhado para a melhoria da qualidade da sua educação. Perdemo-nos por descaminhos. Freire foi traído. E o conservadorismo pedagógico alia-se a um poder destituído de saber. As medidas de política pública continuam assentes na crença de ser possível melhorar aprendizagens sem que se processe a reconfiguração das práticas escolares, sem que surjam novas construções sociais de aprendizagem. Ou em equívocos como o de crer na despoluição de um córrego sem que os herdeiros de Freire devolvam as escolas às comunidades, de onde a modernidade as exilou.
Durante o período negro dos governos militares, o Rubem – que neste fatídico julho nos deixou órfãos – e outros brilhantes pensadores exilaram-se, e muitos projetos pereceram. O Rubem conduziu-me à descoberta de Anísio, que defendia a necessidade de mudar a escola, para que esta se tornasse um instrumento de mudança social. Levou-me ao encontro da Nise, do Florestan, da Nilde, do Lauro e de um íntimo Freire, sobre cuja integração na ortodoxa universidade o Rubem escreveu um “não parecer”...
A morte do mestre Rubem significará um novo exílio? Fico perplexo pela morte da memória do Anísio e por ver Freire sequestrado nos arquivos de teses das universidades, quando sua obra deveria inspirar o labor dos educadores e das escolas brasileiras. Que país é este, que mantém no exílio os seus maiores educadores?

PROFLETRAS TROUXE TEXTO MARAVILHOSO DE GABRIEL PERISSÉ



TEXTO DA PROVA DO MESTRADO
Para que serve a literatura?
Gabriel Perissé

A arte em geral e a literatura em particular não servem para nada? São atividades cuja grandeza reside nessa sublime “inutilidade”? A fruição de uma pintura, de um poema, de uma obra de arte é apenas isso: fruição?

No entanto, o prazer que sentimos na leitura de um conto, de um romance, de uma crônica é um prazer interessante e interessado. O prazer estético que a literatura proporciona-nos torna mais atentos às dores e aos odores da vida. Kafka dizia que um livro deve ser como “martelo que rompa a espessa camada de gelo” sob a qual nos escondemos. Afinal, para que serve a literatura? Para que escrever um texto, brincar com as palavras, conceber imagens, metáforas? Para que criar diálogos entre seres inventados, descrever mundos paralelos, fazer jorrar e enxugar lágrimas invisíveis?
O professor francês Antoine Compagnon tem uma resposta simples e impactante: “quando começamos a ler uma narrativa ou um poema corremos o risco de nos tornar diferentes do que éramos antes dessa leitura”. A literatura nos transforma. Leituras educadoras são aquelas que nos transformam, não só em leitores melhores, mas em pessoas mais atentas ao próprio ato de viver. Essa transformação se opera, por exemplo, na maneira de ver o mundo. Aprendemos a ver o que não víamos antes. Como nos fazem entender estes versos do poeta mineiro Murilo Mendes:

As mãos veem, os olhos ouvem, o cérebro se move. A luz desce das origens através dos tempos E caminha desde já Na frente dos meus sucessores
(“Somos todos poetas”)

É como se nossa percepção ganhasse força. Nossa sensibilidade aumenta. O tato, a visão e a audição se deslocam. O cérebro, preso aos lugares comuns, começa a se mover para todos os lados. Experimentamos a lucidez. Enxergamos o passado e o
futuro mais nitidamente.

Tornamo-nos, assim, pessoas mais críticas, menos manipuláveis. Já não nos seduzem certas programações, certos discursos, certas certezas. Até mesmo certas obras literárias se mostram insuficientes quando outras leituras já nos ensinaram a escolher e a ler melhor. A ler melhor as linhas e as entrelinhas, a forma e o fundo, o óbvio e o interpretável.

Não precisamos mistificar a leitura como se o toque mágico da palavra literária operasse milagres! Mas é um fato constatável que ler mais e melhor nos ajuda a vencer algumas submissões. Lendo com frequência, tendemos a exigir, de nós mesmos e de nossos interlocutores, uma clareza maior ao falar, mais sutileza ao pensar, um pouco mais de originalidade ao viver.
Do que fala a literatura, afinal de contas? Ainda que se refira a outros planetas, a outras sociedades, a outras terras, a outros seres, é sempre de mim que a literatura fala. De mim e de você. É sempre de nossas esperanças e desesperos que ela fala. É da nossa humanização e da nossa desumanização que ela fala. Lendo intensamente, sentimo-nos intensamente visados.
Reforçamos nossa autoconsciência. E daí brota a vontade de resistir.
A “desistite” é uma doença da alma que nos faz abrir mão da responsabilidade de viver. Uma existência sem sentido nos leva à desistência. Desistimos de encontrar nos meandros dos significados comuns, que dormem durante décadas no dicionário, um sentido especial para prosseguir no jogo da vida, na leitura da vida.
Desistir é também desistir de pensar. A leitura educadora, em contrapartida, convida à
resistência, ao uso da inteligência, ao desejo da experiência, ao sentido da urgência. Um personagem complicado denuncia minhas complicações. Um verso cheio de ambiguidades me interroga. Vou buscar meu tempo perdido. Vou respirar meu sopro de vida. Vou contar meus cem anos de solidão.

Num tempo em que a atividade dos professores parece ter sido substituída pela informação abundante e pelo entretenimento onipresente, a literatura pode vir em nosso auxílio. Porque, nela, é possível encontrar caminhos para a formação de si mesmo e para o reencontro com nossos semelhantes que são, em última análise nossos dessemelhantes.

Resistir tem a ver com o reconhecimento de quem nós somos. O nosso autorreconhecimento. É de justiça (e isso ninguém discute) que os outros reconheçam o nosso valor. Mas se não formos nós os primeiros a reconhece-lo, nada feito. Nós valemos, em boa medida, aquilo que lemos.
Nossas leituras fazem parte de nossa identidade. Somos o que lemos e o modo como lemos. Gostar de ficção nos aproxima da realidade.

O músico Jorge Mautner costuma dizer que existem dois tipos de imbecis: “os imbecis que não leem, e os imbecis que leem”. A diferença é a seguinte: os que leem conhecem a extensão da imbecilidade própria e alheia, ao passo que os que não leem ignoram até mesmo a sua lamentável situação. Os que fogem da leitura mal desconfiam (de)que andam perdidos em todos os espaços.

As perguntas retornam: para que serve mesmo a literatura? Será uma disciplina entre as outras? Ou uma coisa belamente inútil?

Revista Educação, julho de 2014. [Adaptado]
 Ilustração de Marina Faria para o livro
Quando Blufis ficou em silêncio, de Lorena Nobel e Gustavo Kurlat (Companhia das Letrinhas,  2014)