terça-feira, 30 de junho de 2009

BIRRA TEM SOLUÇÃO?



Nos meios onde convivo, é comum presenciar cenas de pais que procuram de todas as formas dá fim a uma birra do filho. Supermercados, lojas de brinquedo e até mesmo a escola são os lugares “ mais apropriados” para a ocorrência de uma pirraça, uma vez que fatalmente o querer da criança será limitado pela vontade do adulto, seja por uma impossibilidade financeira, seja devido à necessidade de se realizar alguma atividade.

A birra é, antes de tudo, um indício da incapacidade da criança de lidar com uma frustração. É o último recurso que utiliza pra para convencer pais e/ou professores à realizarem aquilo que ela quer.

A maioria dos pais e muitos professores não sabem como lidar com este tipo de situação. Justamente por isso, caem em dois extremos: ou repreendem a criança com violência – causando mais choro e confusão – ou caem no extremo oposto: realizam o desejo que gerou o conflito.

Como solucionar este tipo de situação de forma equilibrada?

O primeiro passo é compreender que conceder a realização do desejo é a pior das saídas. Uma coisa é realizar o desejo de seu filho quando for possível; outra bem diferente é fazer desta realização uma constante, cada vez que a criança faz uma birra. Muitos pais acreditam que, por trabalharem fora, devem recompensar seus filhos pelo tempo transcorrido fora de casa. O máximo que se consegue agindo assim é desenvolver e solidificar na criança a certeza de que sempre será atendida, a certeza de que seus desejos não possuem limites.

Em uma de suas crônicas para a revista VEJA, a renomada escritora Lya Luft afirmou certa vez que um pai que não está disposto a ser pai (ou seja, exercer as funções de pai) e uma mãe que não está disposta a ser mãe não devem ter filhos. Embora radical em si mesma, a afirmativa é válida

A criança pede limite e vai pedir sempre, até que saiba, por si mesma, o que é certo e o que é errado. A liberdade de agir que um adulto possui surge exatamente do fato de ter escutado um “não” várias e várias vezes ao longo da vida e de ter se adaptado a isso.

Só conseguimos escolher o melhor caminho quando conhecemos o prós e os contras de cada caminho que a vida nos oferece. E isso só é possível quando, lá na infância, nossos pais nos indicam estes perigos por meio do “não”, por meio do limite. Fugir desta regra é criar futuros tiranos; é colocar seu filho frente ao perigo de buscar nas ruas os limites que não foram dados em casa; é colocá-lo completamente desprotegido para atuar no mundo daqui a alguns anos, já que não conhecerá o que existe de risco.

Já perceberam criança muito pequenininha, quando começa a andar? Precisa ser monitoria todo o tempo para que acidentes não aconteçam e para que possa, mais tarde, conquistar a firmeza em seus passos e, assim, conseguir caminhar por conta própria. Assim também acontece a nível psíquico. È preciso “monitorar”; é preciso limitar pra que a independência e a liberdade aconteçam mais tarde.

Por isso, não se sinta culpado por trabalhar fora. Mais importante do que a quantidade é a QUALIDADE do tempo que pais e filhos passam juntos. Aproveite cada segundo com seu filho, dê aquilo que for possível: limite, desloque para um futuro próximo a realização daquilo que a criança pede e procure explicar, em uma linguagem que ela entenda, que nem sempre é possível ter tudo que queremos. Seu filho pode chorar agora; você pode ficar com o coração apertado, mas certamente, mais tarde, os frutos deste ato de amor virão.


IZABELLA GRACY VELOSO NEVES

Psicóloga Clínica pela PUC- MG - CRP /04 20582

Pòs-Graduação em Teoria Psicanalítica pelo Campo Lacaniano - MG



POESIA - Renato Caldas


Seis horas da tarde...
arde
em mim, a fogueira da ausência...
nostalgia!
A noite se debruça
nos escombros do dia.
- Evocação -
O sol vermelho cor de brasa,
desce, e a porta de sua casa,
acende uma fogueira a São João


FONTE: BLOG DE FERNANDO CALDAS

sábado, 27 de junho de 2009

Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto HOMENAGEIA A GRANDE POETISA CORA CORALINA



"O saber a gente aprende com os mestres e os livros. A sabedoria, se aprende é com a vida e com os humildes."

Cora Coralina

MANOELA MEYER

Colaboração para a Livraria da Folha

Desde o dia 18 de junho, Ribeirão Preto (SP) é sede da nona Feira do Livro, que em 2009 homenageia o Chile, o Estado do Amazonas e a poetisa goiana Cora Coralina. Nesta sexta-feira (26), recebeu convidados como os escritores Zuenir Ventura, Lourenço Mutarelli e Ricardo Silvestrin, além do professor Pasquale Cipro Neto.

Assíduo participante do evento, Pasquale considera a feira como uma excelente oportunidade para grandes autores trocarem ideias com seus leitores. Quando questionado sobre a reforma ortográfica, o professor afirmou que ela só produziu problemas para os cidadãos. "A reforma gerou confusão, textos mal escritos e interpretações diversas. Houve desperdício de dinheiro, água, papel e energia elétrica por um acordo que entrou em vigor precipitadamente, pois nem sequer Portugal ainda o adotou", disse em entrevista à Livraria da Folha.

Zuenir Ventura, autor das obras "1968: O Ano que Não Terminou" e "1968:O que Fizemos de Nós", relembrou a história das origens da Feira de Livros de Ribeirão Preto: há dez anos, enquanto passeava pela Praça Carlos Gomes, em Ribeirão, Zuenir comentou sobre o potencial da extensa praça para abrigar um evento de porte semelhante à tradicional Feira do Livro de Porto Alegre (RS).

O escritor discutiu o consumo de "jornalismo literário", ou "new journalism", no país. Segundo ele, os livros deste gênero teriam um papel fundamental por serem "um jornalismo mais cuidadoso, um jornalismo com mais tempo. Um olhar mais detalhado, mais paciente sobre os acontecimentos. Diferente das exigências de um jornal diário", disse Zuenir.

Lourenço Mutarelli é autor do livro "O Cheiro do Ralo", que se tornou um grande sucesso após o lançamento do filme homônimo, dirigido por Heitor Dhalia e estrelado por Selton Mello. Esse foi o primeiro livro de um autor já consagrado no mundo dos quadrinhos.

Em entrevista à Livraria da Folha, Mutarelli disse que com o tempo passou a ficar incomodado com a entrega tão detalhada de informações ao leitor por meio das ilustrações. Essa constatação levou-o a mergulhar na literatura, em uma escrita sem imagens. "Eu não tinha coragem de escrever literatura, porque respeito demais. Achava pretensioso. Mas aconteceu..." disse o escritor.

Para o poeta, contista e músico Ricardo Silvestrin, o evento está dentro de um grande conjunto que abrange enorme interesse pela literatura. Para ele, "não pode ser o imperativo da grande mídia sobre milhões de pessoas que deve decidir o que é importante no país. Se os esforços em torno do livro forem somados - os Sescs, as feiras de livro no interior, as escolas - chega-se a números impactantes".

Já o escritor e jornalista Fernando Morais falou sobre a importância de obras biográficas que muitas vezes revelam personagens interessantes, ora desconhecidos, ora envoltos em grande misticismo. Cita como exemplos seu livro "Olga", que tornou a revolucionária conhecida pela maioria dos brasileiros, e a recente obra "O Mago", que desvendou o "homem por baixo da pele de popstar" em Paulo Coelho.

Participante da primeira edição do evento, Morais enfatizou que toda feira literária e outras manifestações em torno da literatura são importantes. Em especial a de Ribeirão Preto, que passou a ter repercussão nacional.

CORA CORALINA-ZELITO CORINGA

A música que transcende

É um desses raros momentos de encanto, de sensibilidade comprovada, que nos propicia a música de Zelito. Desde a justa e belíssima homenagem a poetisa cora coralina, que através de um rico jogo em que se evidencia a metalinguagem da poesia, passando por passo de hippie, em que metáforas bem estruturadas constroem a musicalidade reinante. outro momento de beleza indiscutível nos é propiciado ao ouvirmos a gata selvagem, em que se constata o animismo mulher gata sobre o eu lírico. Desde oficio até por um triz ficamos fascinados pela praticidade musical de Zelito que, neste primeiro cd, anuncia-se como uma grata surpresa musical no cenário norte-rio-grandense. Sem duvida alguma estamos diante da musica que transcende o banalismo que tem contagiado a mídia brasileira nos últimos tempos. a brilhante atuação desse interprete compositor ou compositor interprete que nos faz admirá-lo por meio de construções felizes como ame o poema até o poeta” (segundo verso de coralina) em que o próprio autor nos dá a receita certa para chegarmos até ele. É a plena consciência da simbiose arte/artista que, infelizmente se torna cada vez mais rara na discografia das rádios e nos programas musicais em geral. Nesse sentido o trabalho de Zelito transcende e felizmente para o público.

Adão Marcelo - Prof° de Literatura Brasileira

sexta-feira, 26 de junho de 2009

DO ÁLBUM DE RECORDAÇÕES...MEU ANTIGO PROFESSOR DE GEOGRAFIA.


ALUIZIO DIAS DE LACERDA
Saiu menino do convívio dos pais , onde residia no Sítio Timbaúba, para buscar aprendizagem em outros municípios com melhores condições de ensino. Iniciou seus estudos no Grupo Luís Gonzaga de Pendências no ano de 1960, em seguida foi para o Diocesano em Mossoró, onde fez seu curso de administração e iniciou o colegial, estudou ainda nos seguintes estabelecimentos de ensino: Pedro Amorim-Assu, Ginásio Agrícola de Ceará Mirim e Currais Novos, Monsenhor Honório -Pendências, Rômulo Wanderley e Atheneu- Natal, unidade onde fez todo ensino médio. Fez parte da última turma do curso clássico, extinto da grade curricular após 1975 e que lhe deixou muitas lições positivas. Como experiência de vida destaca o período que serviu o Exército e o tempo que morou na Casa do Estudante em Natal. Conviveu com grandes mestres. Foi professor e diretor das escolas Estaduais da cidade.

Apsar de ter abandonado o curso de história na UERN, não deixa de ser um grande historiador com uma veia jornalística muito aguçada. Já publicou jornais e hoje se manifesta no mundo da blogosfera.

Exerceu mandato de vereador, chegou ao topo dos mais bem votados, foi candidato a prefeito em 1988 em Carnaubais, cidade onde mora até hoje. Sua tragetória política foi repleta de ocupações diversas.

Estreou no mundo das letras publicando em 1991 o livro: HISTÓRIAS DAQUI MESMO sequenciando com: EU PROSO E ELE RIMA. E desse mestre, outros e outras virão.

Vale recordar, reler e guardar no baú da literatura Carnaubaense.

josélia Coringa

quinta-feira, 25 de junho de 2009

MORTE DO ÍCONE POP MICHAEL JACKSON

Cantor teve uma parada cardíaca, foi internado às pressas em hospital de Los Angeles e não resistiu. Confirmação oficial da morte foi dada por volta das 20h30, no horário de Brasília.

DESENHO DE CRIANÇA



















Certo dia eu viajei
A um mundo especial
O desenho era a passagem
Daquele mundo irreal
As cores era alegria
Os borrões a fantasia
Parecia um festival

Os pássaros cor de rosa
Voavam com o gavião
O sol bem amarelinho
Brilhava como um brasão
A natureza era bela
A mais pura e singela
Não tinha poluição

A terra virou estrela
E ganhou o azul do mar
A lua bem prateada
Jogada o brilho no ar
As pessoas coloridas
Procuravam as margaridas
Para o enfeitar

Esse mundo foi criado
Da coleção hidrocor
Um pedacinho de giz
De um lápis incolor
Das mãoszinhas que agora
Já procuram sem demora
Colorir o nome amor

De repente eu me vi
Perdida na escuridão
O mundo que vi ali
Não era só ilusão
Era um lugar encantato
Nas mãos um sonho dourado
Dos filhos desta nação

Criança que e corre
Canta e pula sem parar
Numa folha de papel
Num dos bancos escolar
Desnhou a esperança
Hoje tenho na lembrança
O direito de sonhar

Poetisa Carnaubaense -
Aldinete Sales - Aluna do Curso de História na Uern
Contato: aldinetesales@hotmail.com

FAMÍLIA TEM QUE SER CARETA



"Quem não estiver disposto a dizer 'não' na hora certa e se fizer de vítima dos filhos, que por favor não finja que é mãe ou pai"
Esperando uma reação de espanto ou contrariedade ao título acima, tento explicar: acho, sim, que família deve ser careta, e que isso há de ser um bem incomparável neste mundo tantas vezes fascinante e tantas vezes cruel. Dizendo isso não falo em rigidez, que os deuses nos livrem dela. Nem em pais sacrificiais, que nos encherão de culpa e impedirão que a gente cresça e floresça. Não penso em frieza e omissão, que nos farão órfãos desde sempre, nem em controle doentio – que o destino não nos reserve esse mal dos males. Nem de longe aceito moralismo e preconceito, mesmo (ou sobretudo) disfarçado de religião, qualquer que seja ela, pois isso seria a diversão maior do demônio.
Falo em carinho, não castração. Penso em cuidados, não suspeita.
Imagino presença e escuta, camaradagem e delicadeza, sobretudo senso de proteção. Não revirar gavetas, esvaziar bolsos, ler e-mails, escutar no telefone, indignidades legítimas em casos extremos, de drogas ou outras desgraças, mas que em situação normal combinam com velhos internatos, não com família amorosa. Falo em respeito com a criança ou o adolescente, porque são pessoas, em entendimento entre pai e mãe – também depois de uma separação, pois naturalmente pessoas dignas preservam a elegância e não querem se vingar ou continuar controlando o outro através dos filhos.
Interesse não é fiscalizar ou intrometer-se, bater ou insultar, mas acompanhar, observar, dialogar, saber. Vejo crianças de 10, 11 anos freqüentando festas noturnas com a aquiescência de pais irresponsáveis, ou porque os pais nem ao menos sabem onde elas andam.
Vejo adolescentes e pré-adolescentes embriagados fazendo rachas alta noite ou cambaleando pela calçada ao amanhecer, jogando garrafas em carros que passam, insultando transeuntes – onde estão os pais?
Como não saber que sites da internet as crianças e os jovenzinhos freqüentam, com quem saem, onde passam o fim de semana e com quem?
Como não saber o que se passa com eles? Sei de meninas, quase crianças, parindo sozinhas no banheiro, e ninguém em casa sabia que estavam grávidas, nem mãe nem pai. Elas simplesmente não existiam, a não ser como eventual motivo de irritação.
Não entendo a maior parte das coisas solitárias e tristes que vicejam onde deveria haver acolhimento, alguma segurança e paz, na família. Talvez tenhamos perdido o bom senso. Não escutamos a voz arcaica que nos faria atender as crias indefesas – e não e digam que crianças de 11 anos ou adolescentes de 15 (a não ser os monstros morais de que falei na crônica anterior) dispensam pai e mãe.
Também não me digam que não têm tempo para a família porque trabalham demais para sustentá-la. Andamos aflitos e confusos por teorias insensatas, trabalhando além do necessário, mas dizendo que é para dar melhor nível de vida aos meninos. Com essa desculpa não os preparamos para este mundo difícil. Se acham que filho é tormento e chateação, mais uma carga do que uma felicidade, não deviam ter tido família. Pois quem tem filho é, sim, gravemente responsável.
Paternidade é função para a qual não há férias, 13º, aposentadoria. Não é cargo para um fiscal tirano nem para um amiguinho a mais: é para ser pai, é para ser mãe.
É preciso ser amorosamente atento, amorosamente envolvido, amorosamente interessado. Difícil, muito difícil, pois os tempos trabalham contra isso. Mas quem não estiver disposto, quem não conseguir dizer "não" na hora certa e procurar se informar para saber quando é a hora certa, quem se fizer de vítima dos filhos, quem se sentir sacrificado, aturdido, incomodado, que por favor não finja que é mãe ou pai. Descarte esse papel de uma vez, encare a educação como função da escola, diga que hoje é todo mundo desse jeito, que não existe mais amor nem autoridade... e deixe os filhos entregues à própria sorte.
Pois, se você se sentir assim, já não terá mais família nem filhos nem aconchego num lugar para onde você e eles gostem de voltar, onde gostem de estar. Você vive uma ilusão de família.
Fundou um círculo infernal onde se alimentam rancores e reina o desamparo, onde todos se evitam, não se compreendem, muito menos se respeitam.
Por tudo isso e muito mais, à família moderninha, com filhos nas mãos de uma gatinha vagamente idiotizada e um gatão irresponsável, eu prefiro a família dita careta: em que existe alguma ordem, responsabilidade, autoridade, mas também carinho e compreensão, bom humor, sentimento de pertença, nunca sujeição.
É bom começar a tentar, ou parar de brincar de casinha: a vida é dura e os meninos não pediram para nascer.
Autora Lya Luft

segunda-feira, 22 de junho de 2009

DE ONDE VEM AS APTIDÕES ARTÍTICAS DOS CORINGAS DE LEMOS?

O cantor, compositor e poeta, carnaubaense Zelito Coringa, representa hoje um dos nomes importantes da NOVA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA, classificado em vários festivais importantes dentre eles o Premio Geraldo Azevedo/2oo7, trás dos seus antepassados o sentimento de força e determinação nos seus projetos artísticos. Zelito é da gema pura.

Todo Coringa da Várzea do Açu tem vinculação a Lemos. Por isso, os ancestrais eram chamados e registrados como Coringa de Lemos. Como caracteres pessoais, eram e são conhecidos como inteligentes, aptos às atividades da mente e se destacaram em várias ações intelectuais. No jornalismo, conhecemos Ubiratan de Lemos, filho de Juvino Fernandes de Lemos, varzeano-do-açu que se incorporou aos soldados da borracha na década de 30, indo estabelecer-se no Alto Amazonas de onde saíram Juvino Fernandes de Lemos Filho, para Manaus, e Ubiratan de Lemos para o Rio de Janeiro, onde foi repórter e diretor da revista O CRUZEIRO, enquanto viveu, deixando por lá irmãos e filhos seus dedicados ao jornalismo.

Francisco Coringa de Lemos, conhecido por Chico Ligeiro, era poeta. Envolvido numa demanda judicial, por discordar dos limites de propriedade impostos por seu vizinho João Rodrigues Ferreira de Melo – Joca de Melo – que, por ser mais abastado e poderoso, era acusado de desrespeitar as marcas tradicionais das confrontações existentes e, invadindo limites das propriedades, abusava de acordos já estabelecidos. Não concordando, Chico Ligeiro derrubou os marcos de confrontações de áreas rurais, apostos por assalariados de Joca de Melo, provocando a pendência que o fizera ser conduzido, preso, para decisão na Intendência do Açu, o órgão administrativo e judicial da época que punha no lugar as controvérsias, resolvendo as desavenças entre os discordantes. Por isso, foi Chico Ligeiro conduzindo para a cidade de Açu, em uma embarcação, visto estar a várzea inundada por uma das fabulosas enchentes do rio Açu. Na Intendência, instalado o Conselho de Justiça, a Chico Ligeiro foi dada oportunidade de se manifestar e, pedindo para produzir em versos a sua defesa, entoando de improviso os próprios argumentos, assim se manifestou:

Eu vi minha terra

Sumir-se ligeiro,

Vi os cajueiros,

De mim se afastar

O lenço, de longe,

Eu ia acenando

E o barco vagando

Nas ondas do mar.

Dado o imenso volume das águas que inundavam a região, transbordando dos leitos e dos córregos, ele chamava de mar, o que facilitava a rima dos versos que entoava.

Deixei minha terra,

Meus rios, meus montes,

Deixei horizontes,

Me pus a chorar

O lenço de longe,

Eu ia acenando

E o barco vagando

Nas ondas do mar.

Deixei meus filhinhos

Que lá se ficaram,

E tanto choraram

A minha partida.

Deixei a consorte

Que também chorava

Porque eu lhe deixava,

Cruel despedida!

Deixei minha terra,

Dali eu parti.

Eu muito senti,

Pois feri um nobre.

Se eu tiver vida

Ainda hei de vê-lo

Mais rico e mais nobre

Que quando parti.

Como resultado, os seus desafetos reconheceram o valor do poeta e desistiram da pendência, proclamando o esbulho dos direitos reclamados pelo poeta. O texto é de autoria de Gilberto Freire de Melo

domingo, 21 de junho de 2009

Por que as mudanças são tão lentas na educação?


Por que numa época de grandes mudanças sociais, elas acontecem de forma tão lenta na educação? Por que profissionais educacionais bem preparados demoram para executar mudanças pedagógicas e gerenciais necessárias?

Mudanças dependem de uma boa gestão institucional com diretrizes claras e poder de implementação, tendo os melhores profissionais, bem remunerados e formados (realidade ainda muito distante). Mas um dos caminhos que pode esclarecer algumas dificuldades da mudança pessoal é que as pessoas têm atitudes diferentes diante do mundo, da profissão, da vida. Em todos os campos encontramos profissionais com maior ou menor iniciativa, mais ou menos motivados, mais convencionais ou proativos. Nas instituições educacionais – organizações cada vez mais complexas - convivem gestores e professores com perfis pessoais e profissionais bem diferentes.

Numa primeira análise, constatamos que existem, basicamente, dois perfis profissionais (com diferentes variáveis e justificativas): os automotivados e os que precisam de motivações mais externas. Os automotivados são mais ativos, procuram saídas, não se detêm diante dos obstáculos que aparecem e por isso costumam realizar mais avanços a longo prazo. Os motivados externos são mais dependentes, precisam ser mais monitorados, orientados, dirigidos. Sem essa motivação externa perdem o ímpeto, quando aparecem dificuldades, ou quando o controle diminui. Os automotivados pesquisam e, com poucos recursos ou condições, constroem novos projetos. Os dependentes, nas mesmas ou melhores condições, preferem executar tarefas, obedecer ordens, realizar o que outros determinam. Os dependentes querem receitas, os automotivados procuram soluções. Por que uns são mais motivados do que outros? Uma das explicações, na minha opinião, é que os motivados procuram ou encontram um sentido mais profundo no que fazem na vida do que os dependentes, que encaram a educação mais como profissão e sobrevivência econômica, sem outros ideais que os orientem.

Nas mesmas instituições educacionais e nas mesmas condições, gestores, professores, funcionários mostram posturas e perfis diferentes. Encontramos basicamente quatro tipos de profissionais:


1. Profissionais previsíveis
São gestores e professores que aprendem modelos e tendem a repeti-los permanentemente. Gostam da segurança, do conforto da repetição. Dependem de motivações externas. Fazem pequenas alterações, quando pressionados, mas, se a pressão da autoridade diminui, o comportamento tradicional se restabelece.
Encontramos profissionais previsíveis competentes, que realizam um trabalho exemplar, sério, dedicado. E encontramos também previsíveis pouco competentes, pouco preparados, que copiam modelos, receitas sem muita criatividade.

2. Profissionais proativos, automotivados

São gestores e professores que buscam sempre soluções, alternativas, novas técnicas, metodologias. Procuram, em condições menos favoráveis, fazer mudanças (se motivam para continuar aprendendo). Diante de novas propostas ou idéias, fazem pesquisa, e procuram implementá-las e avaliá-las.

Temos duas categorias de proativos: Uns são dinâmicos, ágeis e implementam soluções previsíveis, conhecidas, aprendidas em palestras ou cursos de formação. Outros são proativos inovadores: Trazem propostas diferenciadas, ainda não tentadas antes. Ambos são importantes para fazer avançar a educação, mas é dos inovadores neste momento que precisamos mais.

3. Profissionais acomodados

São professores e gestores que procuram a educação porque – na visão deles - é uma profissão pouco exigente e muito segura. Não se ganha muito, mas permite ser levada como “um bico”, sem muito compromisso. São profissionais burocráticos, que fazem o mínimo para se manter; questionam os motivados, os jovens idealistas; culpam o governo, a estrutura, os alunos pelos problemas. Muitas vezes ocupam cargos importantes e os utilizam em proveito próprio ou de grupos específicos, que os apóiam ou elegem. São um peso desagregador e imobilizador nas escolas, que torna muito mais difícil realizar mudanças.


4. Profissionais com dificuldades maiores

Alguns tem dificuldades momentâneas ou conjunturais. Passam por uma crise pessoal ou familiar, ou alguma doença que dificulta o seu desempenho profissional. Com o tempo se recuperam e retomam o ritmo anterior. Mas também há profissionais que possuem dificuldades mais profundas. Pode ser de relacionamento - são difíceis, complicados, não sabem trabalhar em grupo – de esquizofrenia, de autocentramento – se acham os donos do mundo – e tantas outras. São pessoas difíceis, que complicam muito o andamento institucional, a relação pedagógica e a gestão escolar.

Nas instituições convivem estes quatro tipos de profissionais, que contribuem de forma diferente para os avanços necessários na educação:
  • Os previsíveis, mesmo vendo os problemas, preferem continuar com sua rotina confortável e só mudam com uma pressão continuada externa.
  • Os proativos estão prontos para fazer mudanças, mesmo antes de serem solicitadas institucionalmente e procuram implementá-las em pequena escala, quando não há ainda uma política institucional que favoreça as mudanças.
  • Os acomodados são os que mais criticam o estado das coisas, os que culpam os demais pelos problemas – governo, direção, alunos mal preparados, condições de trabalho, salários baixos – e utilizam esses questionamentos que fazem sentido para justificar sua não ação, sua pouca preocupação com as mudanças efetivas. Criticam muito, realizam pouco e atrapalham os proativos, muitas vezes com críticas corrosivas e pessimistas (“já vimos esse filme antes e não deu em nada”, “isso é fogo de palha, idealismo de jovens...”).
  • Os que têm dificuldades maiores são também um peso na mudança, porque ou estão em um período complicado e pouco podem contribuir ou possuem personalidades difíceis, ariscas, autoritárias, que tornam complexa a convivência, quanto mais a mudança.
O meu texto completo está em www.eca.usp.br/prof/moran/lentas.htm


ESTOU DE VOLTA

SONETO ANTIGO

Responder a perguntas não respondo.
Perguntas impossíveis não pergunto.
Só do que sei de mim aos outros conto:
de mim, atravessada pelo mundo.

Toda a minha experiência, o meu estudo,
sou eu mesma que, em solidão paciente,
recolho do que em mim observo e escuto
muda lição, que ninguém mais entende.

O que sou vale mais do que o meu canto.
Apenas em linguagem vou dizendo
caminhos invisíveis por onde ando.

Tudo é secreto e de remoto exemplo.
Todos ouvimos, longe, o apelo do Anjo.
E todos somos pura flor de vento.

Cecília Meireles